LIVRO: Drama Como Método de ensino
AUTORA: Beatriz Cabral
BOLSISTA: Liliane Pires
REFERENCIA: CABRAL, Beatriz. Drama Como Método de ensino. São Paulo: Editora Hucitec:
Edições Mandacaru, 2006. (Pedagogia do Teatro)
FICHAMENTO
“O drama como método de ensino, eixo curricular
e/ou tema gerador constitui-se atualmente numa subárea do fazer teatral e está
baseado num processo contínuo de exploração de formas e conteúdos relacionados
com um determinado foco de investigação (selecionado pelo professor ou
negociado entre professor e aluno). Como processo, o drama articula uma série
de episódios, os quais são construídos e definidos com base em convenções
teatrais criadas para possibilitar seu sequenciamento e aprofundamento.” (p.12,
l.4)
“Algumas características básicas são associadas ao
drama como atividade de ensino: contexto e circunstâncias de ficção,
que tenham alguma ressonância com o contexto real ou com interesses específicos
dos participantes; o processo em desenvolvimento através
de episódios, um pré-texto que delimite e
potencialize a construção da narrativa teatral em grupo; e a mediação de
um professor-personagem, que permite focalizar a situação sob
perspectivas e obstáculos diversos. Entre as estratégias que articulam essas
características, algumas são fundamentais: as convenções teatrais que
identificam formas distintas de ação dramática, a quantidade e a qualidade do
material oferecido aos participantes, a delimitação e ambientação cênica.”
(p.12, l. 12)
“Entretanto, para que o contexto estabelecido para
uma determinada experiência permita este cruzamento do real com o imaginário, e
para que as crianças consigam interagir como participantes destas duas
realidades simultaneamente (a do contexto real e a do contexto imaginário), é
necessário que a situação ou circunstâncias exploradas sejam convincentes,
tanto no tratamento do tema/assunto, quanto na ambientação e papéis
selecionados.
Contexto e circunstâncias são convincentes,
primeiramente pela sua coerência interna, e esta em grande parte dependerá do
acesso a informações e material de pesquisa disponível ao grupo. Falta de
coerência decorre em grande parte da ausência de informações sobre o assunto, o
que acarreta improvisações desencontradas e/ou simplistas, sem objetivo
relacionado com o contexto ou fatos investigados.
Em segundo lugar, a situação dramática pode
tornar-se convincente pela interação entre o contexto da ficção, o contexto
social e o contexto da ambientação cênica. As possíveis analogias ou
aproximações entre esses três contextos serão a medida do engajamento emocional
dos participantes com o desenvolvimento do processo dramático.” (p. 13, l.
4)
“A
constatação fundamental aqui é que as dimensões artística e educacional
alimentam uma à outra – o desempenho artístico será tanto melhor quanto maior
for o conhecimento adquirido sobre os conteúdos e as formas subjacentes ao
processo dramático; o valor educacional da experiência na escola será tanto
maior quanto melhor for o resultado artístico alcançado.” (p.17, l. 20)
“Caracterizado
também como “um processo de investigação”, o impacto que o drama terá sobre o
grupo vai corresponder ao material usado para envolver os participantes com o
processo: o pré-texto, e o material introduzido de forma gradual
pelo professor, tal como pistas, documentos, fotografias, objetos, etc. Tanto o
pré-texto quanto o material de manutenção do processo permanecem estreitamente
vinculados ao papel do professor, como personagem ou não.”. (p.23, l.17)
“Ambientação
cênica e teatralidade referem-se à possibilidade de levar os participantes a
participar de uma realidade virtual; de se envolver na fantasia despertada pelo
contexto da ficção intensificado pela participação ativa num evento teatral. A
experiência de ser parte de uma realidade simulada já é prazerosa em si,
independentemente de seu conteúdo (...)”. (p.30, l.26)
“A
construção do conhecimento em grupo, mediante a concomitante aquisição da
linguagem, ambos decorrentes das situações criadas e mediadas pelo professor,
fica evidente a cada etapa do processo. Neste, o sucesso ou fracasso do drama
como método de ensino ou de aprendizagem reflete a habilidade do professor para
coordenar as interações dos alunos em diferentes níveis a fim de
equilibrar fazer e apreciar e de introduzir
situações, informações e/ou desafios na hora certa de acordo com os diferentes
papéis e ações.” (p.31, l.20)
“(...)
o aluno ao investigar as respostas o fará de acordo com suas necessidades e
interesse, caracterizando-se assim como produtor dos conhecimentos adquiridos
em vez de mero reprodutor do que lhe é passado pelo professor.” (p.34, l.1)
"O
estímulo composto reúne um conjunto de artefatos – objetos, fotografias, cartas
e documentos, por exemplo, em uma embalagem apropriada. A história que se
desenvolve a partir dele ganha significância através do cruzamento de seu
conteúdo – o relacionamento entre os artefatos nele contidos – e como os
detalhes de cada um sugerem ações e motivações humanas.” (p.36, l.14)
“A
teoria do estímulo composto foi desenvolvida por John Somers (1994), e parte do
princípio de que o impacto do drama está baseado na possibilidade de trabalhar
em dois níveis que estão interconectados e afetam um ao outro – o do contexto
social dos participantes e o do contexto simbólico promovido pela linguagem do
drama. Por exemplo, uma ferramenta pode sugerir um tipo de trabalho e o
trabalhador que o executa; uma carta indica o motivo pelo qual foi escrita e o
relacionamento entre o remetente e o destinatário.” (p.36, l.20)
“Os
artefatos contidos no pacote de estímulo (o qual pode ser uma valise, um
envelope grande, uma caixa, uma trouxa, etc.) funcionam como uma alavanca para
iniciar e impulsionar o processo dramático, e vão tornando-se menos importantes
à medida que a imaginação do grupo se fortalece. No decorrer do processo
dramático poderão funcionar como uma referência contínua aos fatos que lhe
deram origem.” (p.37, l.3)
“A
cada processo desenvolvido sobre o mesmo tópico ou texto dramático, o professor
poderá optar por ampliar o número de trabalhos relacionados com o contexto
(construção de mapas ou ambientações, murais, imagens congeladas, fotos
animadas, esculturas, reportagens, etc.); com a identificação de funções ou
papéis (berlinda, entrevistas, um dia na vida..., problema oculto, máscaras,
etc.), ou com o desenvolvimento da narrativa dramática, enfrentamento de
tensões e solução de conflitos (jogos de status, fórum, analogias,
rituais, momento da verdade, etc.). Todas essas atividades, presentes em
metodologias distintas como os Jogos Teatrais, de Viola Spolin, e
o Teatro do Oprimido, de Augusto Boal, sob a forma de jogos ou
improvisações, fazem parte também do Drama. O que as identifica
aqui é a fundamental importância que adquire sua coerência interna com o pré-texto –
as intenções e motivações que deram origem ao processo do drama, e a construção
de uma narrativa orquestrada pelo professor dramaturgista(...).”
(p.43, l.9)
“Em ambas a situações, leitura e construção de
imagens, a intervenção do professor e monitores está centrada naquele espaço
que Vigotski convencionou chamar “zona do desenvolvimento proximal”,
caracterizada pela distância entre a capacidade individual da criança e sua
capacidade de intervir com ajuda ou colaboração de outros mais capazes.
Na prática isso significa que o professor não
vai definir os papéis ou ações dos participantes; sua função será “ler” as
atitudes e ações dos participantes e fazer perguntas que os leve a pensar
adiante.” (p.51, l.23)
“Práticas
pós-modernas também estão refletidas no drama: fragmentação e redistribuição de
papéis, abordagem não linear e descontínua, retomada de temas e textos
clássicos, diluição da distinção entre atores e espectadores, mudanças de
perspectiva – investigação do tema de pontos de vista distintos.” (p.115, l.4)
“O
material introduzido no correr destes processos dependeu do questionamento e
interesse do grupo e das tarefas estabelecidas pelo professor em função das
necessidades cênicas e de aprendizagem.” (p.117, l.17)
“O drama,
neste sentido, é um método de ensino cujos aspectos estruturais e estratégias
garantem ao professor o exercício de ouvir o aluno e abrir oportunidades para
que ele investigue as situações dramáticas a partir de seu capital
cultural (...). O professor propõe as tarefas que irão definir o
próximo episódio do processo dramático com base no material que veio
à tona do episódio anterior. Ele pode, e deve, desafiar as posturas assumidas
pelo aluno, mas fará isso ao criar problemas para serem solucionados por meio
de diálogos ou ações físicas.” (p.118, l.30)
COMENTÁRIO RELAÇÃO: Drama
X processo contínuo X investigação.
A autora nos apresenta o
Drama como método ensino expondo a sua possibilidade de uso tanto como eixo
curricular quanto como ferramenta de ensino. Traz sua conceituação, explica e
exemplifica seus principais conceitos e expõe experiências de utilização do
método. O Drama propõe um
processo coletivo de construção de uma narrativa que incentiva os participantes
a conceberem cenas a partir de um pré-texto.
O professor é de fundamental importância no
processo, não para tomar decisões, mas para sutilmente conduzir o processo para
o resultado esperado através da introdução de material.
O Drama imerge os alunos numa realidade imaginada
fazendo-os viver aquilo que está sendo criado concomitantemente com o processo
de criação.
A característica investigativa do processo é
altamente eficaz para manter o interesse e estimular a pesquisa acerca de temas
desejados. Por isso, o drama se configura como excelente ferramenta para
trabalhos inter e transdisciplinares.
O Drama como método já traz em si o cerne da
avaliação formativa (ou processual). A cada encontro percebe-se o estágio em
que os alunos se encontram em relação ao conhecimento acerca dos temas
pretendidos e verifica-se formas de introduzir novos conhecimentos, estimular o
aprofundamento ou fortalecer pontos que estão insuficientemente trabalhados.
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