ARTIGO: Notas
Sobre a Experiência e o Saber Experiência
AUTOR: Jorge
Larrosa Bomdía
BOLSISTA:
Liliane Pires
REFERENCIA: BONDÍA,
Jorge Larrosa. Notas sobre a experiência
e o saber de experiência. in Revista Brasileira da Educação. No. 19,
Jan/Fev/Mar/Abr, Rio de Janeiro: ANPED, 2002.
FICHAMENTO
"As palavras
determinam nosso pensamento porque não pensamos com pensamentos, mas com
palavras, não pensamos a partir de uma suposta genialidade ou inteligência, mas
a partir de nossas palavras. E pensar não é somente “raciocinar” ou “calcular”
ou “argumentar”, como nos tem sido ensinado algumas vezes, mas é sobretudo dar
sentido ao que somos e ao que nos acontece." (p. 21)
"Em nossa
arrogância, passamos a vida opinando sobre qualquer coisa sobre que nos
sentimos informados. E se alguém não tem opinião, se não tem uma posição própria
sobre o que se passa, se não tem um julgamento preparado sobre qualquer coisa
que se lhe apresente, sente-se em falso, como se lhe faltasse algo essencial. E
pensa que tem de ter uma opinião. Depois da informação, vem a opinião. No
entanto, a obsessão pela opinião também anula nossas possibilidades de
experiência, também faz com que nada nos aconteça." (p. 22)
“Em qualquer
caso, seja como território de passa- gem, seja como lugar de chegada ou como
espaço do acontecer, o sujeito da experiência se define não por sua atividade,
mas por sua passividade, por sua recep- tividade, por sua disponibilidade, por
sua abertura. Trata-se, porém, de uma passividade anterior à oposi- ção entre
ativo e passivo, de uma passividade feita de paixão, de padecimento, de
paciência, de atenção, como uma receptividade primeira, como uma disponi-
bilidade fundamental, como uma abertura essencial.” (p. 24)
“Na paixão se dá uma
tensão entre liberdade e escravidão, no sentido de que o que quer o sujeito é,
precisamente, permanecer cativo, viver seu cativeiro, sua dependência daquele
por quem está apaixonado. Ocorre também uma tensão entre prazer e dor, entre
felicidade e sofrimento, no sentido de que o sujeito apaixonado encontra sua
felicidade ou ao menos o cumprimento de seu destino no padecimento que sua
paixão lhe proporciona.” (p. 26)
“Uma vez vencido e
abandonado o saber da experiência e uma vez separado o conhecimento da
existência humana, temos uma situação paradoxal. Uma enorme inflação de
conhecimentos objetivos, uma enorme abundância de artefatos técnicos e uma
enorme pobreza dessas formas de conhecimento que atuavam na vida humana, nela
inserindo-se e transformando-a. A vida humana se fez pobre e necessitada, e o
conhecimento moderno já não é o saber ativo que alimentava, iluminava e guiava
a existência dos homens, mas algo que flutua no ar, estéril e desligado dessa
vida em que já não pode encarnar-se.” (p. 28)
COMENTÁRIO
RELAÇÃO: A importância das palavras X Experiência
pelo sentido.
O autor começa o
texto destacando a importância das palavras, não apenas como carregadores de
sentido, mas como transformadoras, já que pensamos por palavras, e já que as
palavras tem um grande poder sobre nós. Nessa lógica, seu objetivo passa a ser,
então, o de explorar uma possibilidade de educação pela experiência, pelo
sentido. O caminho percorrido, então, passa por sete etapas: 1. Descreve a palavra
experiência: “o que nos passa”, “o que nos acontece”, “o que nos chega”; 2.
Próximo passo é descrever o sujeito da experiência, sujeito passivo, que deve
estar aberto à experiência, uma disponibilidade apaixonada, abertura composta
de paciência, marcado por sua receptividade; 3. Terceiro passo é entender a
origem da palavra, que, fundamentalmente está ligada às dimensões da travessia
e do perigo; 4. Em quarto lugar, o autor mostra como o sujeito da experiência é
um sujeito sofredor, tombado, derrubado; não o sujeito do sucesso, da
eficiência, poderoso - herói burguês capitalista. Entretanto, por ser o sujeito
derrubado, sofredor, tombado, está aberto à mudança, à transformação; 5. Sendo,
então, esse sujeito descrito, o autor o coloca como sujeito passional e passa à
reflexão acerca do significado da paixão: I. sofrimento, padecimento; II.
heteronomia, responsabilidade com o outro; III. amor-paixão ocidental, onde o
sujeito apaixonado não possui o sujeito por quem está apaixonado, mas sim é
possuído pelo desejo de possuir. Sendo assim, na paixão sempre há uma tensão
entre liberdade e escravidão; 6. Próximo passo: descrever o saber da
experiência: saber que se dá na relação entre conhecimento e vida. Nessa lógica,
não moderna, essa relação entre conhecimento e vida se dão no âmbito singular,
na conhecimento que o indivíduo adquire ao passar da vida, de acordo com suas
experiências, de acordo com suas necessidades, sendo assim, esse conhecimento
não é neutro, objetivo, mas sim apaixonado, subjetivo, carregado das necessidade
singulares e individuais; 7. Autor desconstrói a ciência moderna, mostrando
como sua grande atuação está em nos alienar da experiência, transformando-a em
método, um caminho seguro. Ciência experimental, dentro dessa lógica, nada tem
de experiência, já que os experimentos são sempre métodos para se obterem
resultados previstos e objetivos, devem ser sempre repetíveis com seus
resultados sempre sendo os mesmos. Se a lógica do experimento produz acordo,
consenso ou homogeneidade entre os sujeitos, a lógica da experiência produz
diferença, heterogeneidade e pluralidade. Por isso, no compartir a experiência,
trata-se mais de uma heterologia do que de uma homologia, ou melhor, trata-se
mais de uma dialogia que funciona heterologicamente do que uma dialogia que
funciona homologicamente. Se o experimento é repetível, a experiência é
irrepetível, sempre há algo como a primeira vez. Se o experimento é preditível
e previsível, a experiência tem sempre uma dimensão de incerteza que não pode
ser reduzida.
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