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terça-feira, 16 de dezembro de 2014

FICHAMENTO

ARTIGO: Notas Sobre a Experiência e o Saber Experiência
AUTOR: Jorge Larrosa Bomdía
BOLSISTA: Liliane Pires
REFERENCIA: BONDÍA, Jorge Larrosa. Notas sobre a experiência e o saber de experiência. in Revista Brasileira da Educação. No. 19, Jan/Fev/Mar/Abr, Rio de Janeiro: ANPED, 2002.


FICHAMENTO


"As palavras determinam nosso pensamento porque não pensamos com pensamentos, mas com palavras, não pensamos a partir de uma suposta genialidade ou inteligência, mas a partir de nossas palavras. E pensar não é somente “raciocinar” ou “calcular” ou “argumentar”, como nos tem sido ensinado algumas vezes, mas é sobretudo dar sentido ao que somos e ao que nos acontece." (p. 21)
 "Em nossa arrogância, passamos a vida opinando sobre qualquer coisa sobre que nos sentimos informados. E se alguém não tem opinião, se não tem uma posição própria sobre o que se passa, se não tem um julgamento preparado sobre qualquer coisa que se lhe apresente, sente-se em falso, como se lhe faltasse algo essencial. E pensa que tem de ter uma opinião. Depois da informação, vem a opinião. No entanto, a obsessão pela opinião também anula nossas possibilidades de experiência, também faz com que nada nos aconteça." (p. 22)
 “Em qualquer caso, seja como território de passa- gem, seja como lugar de chegada ou como espaço do acontecer, o sujeito da experiência se define não por sua atividade, mas por sua passividade, por sua recep- tividade, por sua disponibilidade, por sua abertura. Trata-se, porém, de uma passividade anterior à oposi- ção entre ativo e passivo, de uma passividade feita de paixão, de padecimento, de paciência, de atenção, como uma receptividade primeira, como uma disponi- bilidade fundamental, como uma abertura essencial.” (p. 24)
“Na paixão se dá uma tensão entre liberdade e escravidão, no sentido de que o que quer o sujeito é, precisamente, permanecer cativo, viver seu cativeiro, sua dependência daquele por quem está apaixonado. Ocorre também uma tensão entre prazer e dor, entre felicidade e sofrimento, no sentido de que o sujeito apaixonado encontra sua felicidade ou ao menos o cumprimento de seu destino no padecimento que sua paixão lhe proporciona.” (p. 26)
“Uma vez vencido e abandonado o saber da experiência e uma vez separado o conhecimento da existência humana, temos uma situação paradoxal. Uma enorme inflação de conhecimentos objetivos, uma enorme abundância de artefatos técnicos e uma enorme pobreza dessas formas de conhecimento que atuavam na vida humana, nela inserindo-se e transformando-a. A vida humana se fez pobre e necessitada, e o conhecimento moderno já não é o saber ativo que alimentava, iluminava e guiava a existência dos homens, mas algo que flutua no ar, estéril e desligado dessa vida em que já não pode encarnar-se.” (p. 28)

COMENTÁRIO RELAÇÃO: A importância das palavras X Experiência pelo sentido.

O autor começa o texto destacando a importância das palavras, não apenas como carregadores de sentido, mas como transformadoras, já que pensamos por palavras, e já que as palavras tem um grande poder sobre nós. Nessa lógica, seu objetivo passa a ser, então, o de explorar uma possibilidade de educação pela experiência, pelo sentido. O caminho percorrido, então, passa por sete etapas: 1. Descreve a palavra experiência: “o que nos passa”, “o que nos acontece”, “o que nos chega”; 2. Próximo passo é descrever o sujeito da experiência, sujeito passivo, que deve estar aberto à experiência, uma disponibilidade apaixonada, abertura composta de paciência, marcado por sua receptividade; 3. Terceiro passo é entender a origem da palavra, que, fundamentalmente está ligada às dimensões da travessia e do perigo; 4. Em quarto lugar, o autor mostra como o sujeito da experiência é um sujeito sofredor, tombado, derrubado; não o sujeito do sucesso, da eficiência, poderoso - herói burguês capitalista. Entretanto, por ser o sujeito derrubado, sofredor, tombado, está aberto à mudança, à transformação; 5. Sendo, então, esse sujeito descrito, o autor o coloca como sujeito passional e passa à reflexão acerca do significado da paixão: I. sofrimento, padecimento; II. heteronomia, responsabilidade com o outro; III. amor-paixão ocidental, onde o sujeito apaixonado não possui o sujeito por quem está apaixonado, mas sim é possuído pelo desejo de possuir. Sendo assim, na paixão sempre há uma tensão entre liberdade e escravidão; 6. Próximo passo: descrever o saber da experiência: saber que se dá na relação entre conhecimento e vida. Nessa lógica, não moderna, essa relação entre conhecimento e vida se dão no âmbito singular, na conhecimento que o indivíduo adquire ao passar da vida, de acordo com suas experiências, de acordo com suas necessidades, sendo assim, esse conhecimento não é neutro, objetivo, mas sim apaixonado, subjetivo, carregado das necessidade singulares e individuais; 7. Autor desconstrói a ciência moderna, mostrando como sua grande atuação está em nos alienar da experiência, transformando-a em método, um caminho seguro. Ciência experimental, dentro dessa lógica, nada tem de experiência, já que os experimentos são sempre métodos para se obterem resultados previstos e objetivos, devem ser sempre repetíveis com seus resultados sempre sendo os mesmos. Se a lógica do experimento produz acordo, consenso ou homogeneidade entre os sujeitos, a lógica da experiência produz diferença, heterogeneidade e pluralidade. Por isso, no compartir a experiência, trata-se mais de uma heterologia do que de uma homologia, ou melhor, trata-se mais de uma dialogia que funciona heterologicamente do que uma dialogia que funciona homologicamente. Se o experimento é repetível, a experiência é irrepetível, sempre há algo como a primeira vez. Se o experimento é preditível e previsível, a experiência tem sempre uma dimensão de incerteza que não pode ser reduzida.

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