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quarta-feira, 3 de dezembro de 2014

PERFORMANCE, RECEPÇÃO, LEITURA. FICHAMENTO

Livro: PERFORMANCE, RECEPÇÃO, LEITURA.
Autor: Paul Zumthor.
Bolsista: Ana Caroline de Jesus Santos.
FICHAMENTO

Cap. 1 - Performance, recepção e leitura


 “A forma da canção de meu camelô de outrora pode se decompor, analisar, segundo as frases ou a versificação, a melodia ou a mímica do intérprete. Essa redução constitui um trabalho pedagógico útil e talvez necessário, mas, de fato (no nível em que o discurso é vivido), ele nega a existência da forma. Essa, com efeito, só existe na "performance". (Pg. 29)

“Está fortemente marcada por sua prática. [...] objeto de estudo é uma manifestação cultural, lúdica não importa de que ordem (conto, canção, rito, dança), a performance é sempre constitutiva da forma.” (Pg.30)

“As regras da performance - com efeito, regendo simultaneamente o tempo, o lugar, a finalidade da transmissão, a ação do locutor e, em ampla medida, a resposta do público.” (Pg.30)

“Muitas culturas no mundo codificaram os aspectos não verbais da performance e a promoveram abertamente como fonte de eficácia textual. Em outros termos, performance implica competência. Mas o que é aqui a competência? À primeira vista, aparece como savoirjaire. Na performance, eu diria que ela é o saber-ser.” (Pg 31)

“ [...] performance é reconhecimento. A performance realiza, concretiza, faz passar algo que eu reconheço, da virtualidade à atualidade. (pg31)

“A performance se situa num contexto ao mesmo tempo cultural e situacional: nesse contexto ela aparece como uma "emergência", um fenômeno que sai desse contexto ao mesmo tempo em que nele encontra lugar.” (pg 31).

“A performance e o conhecimento daquilo que se transmite estão ligados naquilo que a natureza da performance afeta o que é conhecido. A performance, de qualquer jeito, modifica o conhecimento. Ela não é simplesmente um meio de comunicação: comunicando, ela o marca.” (Pg 32)

“[...] ler possui uma reiterabilidade própria, remetendo a um hábito de leitura, entendo não apenas a repetição de uma certa ação visual, mas o conjunto de disposições fisiológicas, -psíquicas e exigências de ambiente (como uma boa cadeira, o silêncio ... ) ligadas de maneira original para cada um dentre nós, não a um "ler" geral e abstrato, mas à leitura do jornal, de um romance ou de um poema.” ( pg 32)

“Segundo: no uso mais geral, peiformance se refere de modo imediato a um acontecimento oral c gestual. Daí certas consequências metodológicas para nós, quando empregamos o termo nesses casos em que a própria noção de oralidade tende a se diluir e a gestualidade parece desaparecer.” (Pg 38)

“[...] utilizando o conceito de performance, o que buscamos questionar não é uma origem; é nesse engano que pesquisadores interessados nas culturas do terceiro mundo tratam-na como qualquer coisa de historicamente primitiva.” (Pg 42).

“No caso do ritual propriamente dito, incontestavelmente, um discurso poético é pronunciado, mas esse discurso se dirige, talvez, por intermédio dos participantes do rito, aos poderes sagrados que regem a vida; no caso da poesia, o discurso se dirige à comunidade humana: diferença de finalidade, de destinatário; mas não da própria natureza discursiva. (Pg 45 e 46)

“A performance é então um momento da recepção: momento privilegiado, em que um enunciado é realmente recebido. Quando do enunciado de um discurso utilitário corrente, a recepção se reduz à performance: você pergunta o seu caminho, e lhe respondem que é a primeira rua à direita.” (Pg 50)

“A recepção, eu o repito, se produz em circunstância psíquica privilegiada: performance ou leitura. É então e tão-somente que o sujeito, ouvinte ou leitor, encontra a obra; e a encontra de maneira indizivelmente pessoal.” (Pg 52)

“O texto vibra; o leitor o estabiliza, integrando-o àquilo que é ele próprio. Então é ele que vibra, de corpo e alma. Não há algo que a linguagem tenha criado nem estrutura nem sistema completamente fechados; e as lacunas e os brancos que aí necessariamente subsistem constituem um espaço de liberdade: ilusório pelo fato de que só pode ser ocupado por um instante, por mim, por você, leitores nômades por vocação. Também assim, a ilusão é própria da arte.” ( Pg.53)

“Transmitida a obra pela voz ou pela escrita, produzem-se, entre ela e seu público, tantos encontros diferentes quantos diferentes ouvintes e leitores.” (Pg. 55)

“Tal é, em nossa civilização, o meio natural de toda “literatura”; poesia desde o instante em que ela se forma até aquele em que é “recebida””. (Pg.59)

“A leitura se desenrola sobre o pano de fundo do barulho de voz que a impregna. Para o homem do fim do século xx, a leitura responde a uma necessidade, tanto de ouvir quanto de conhecer. O corpo aí se recolhe. É uma voz que ele escuta e ele reencontra uma sensibilidade que dois ou três séculos de escrita tinham anestesiado, sem destruir.” (pg. 60)

“O poema assim se "joga": em cena (é a performance) ou no interior de um corpo e de um espírito (a leitura).” (Pg. 61)

“A analogia é esclarecedora; e o modelo teatral, em nossa cultura, representa toda poesia, na própria complexidade de sua prática.” (Pg. 61)

“Escrito, o texto é fixado, mas a interpretação permanece entregue à iniciativa do diretor e, mais ainda, à liberdade controlada dos atores, de sorte que sua variação se manifesta, em última análise, pela maneira como é levado em conta por um corpo individual.” (Pg.62)

“Por isso, porque ela é encontro e confronto pessoal, a leitura é diálogo. A "compreensão" que ela opera é fundamentalmente dialógica: meu corpo reage à materialidade do objeto, minha voz se mistura, virtualmente, à sua. Daí o "prazer do texto"; desse texto ao qual eu confiro, por um instante, o dom de todos os poderes que chamo eu. O dom, o prazer transcendem necessariamente a ordem informativa do discurso, que eles eliminam depois.” (Pg.63)

“[...] na história de um texto poético, distinguir vários momentos: o momento de sua formação, depois, necessariamente [...] há a transmissão. Esta propicia a recepção. Depois ele se conserva,' em consequência da outra característica própria do texto poético, desalienar-se no que se refere às limitações do tempo. Em seguida, teremos outras recepções, em número indefinido: eu as reúno sob o termo reiteração. Em cada um desses momentos, o suporte pode ser tanto a palavra viva quanto a escrita.” (Pg. 65)

“A diferença essencial entre os dois modelos de comunicação que elas realizam reside em que, em situação de oralidade pura, se mantém, de momento a momento, uma unidade muito forte, da ordem da percepção.” (Pg. 66)

“A leitura se aprende, nos entretemos com ela; ela exige esforço e constância; na linguagem corrente, a palavra cultura designa o hábito, seus efeitos.” (Pg. 67)

“A leitura "literária" não cessa de trapacear a leitura. Ao ato de ler integra-se um
desejo de restabelecer a unidade da performance, essa unidade perdida para nós, de restituir a plenitude por um exercício pessoal, a postura, o ritmo respiratório, pela imaginação. Esse esforço espontâneo, em vista da reconstituição da unidade, é inseparável da procura do prazer.” (Pg. 67)

“A performance é ato de presença no mundo e em si mesma. Nela o mundo está presente.[...] não se pode falar de performance de maneira perfeitamente unívoca e há lugar aí para definir em diferentes graus, ou modalidades: a performance propriamente dita, gravada pelo etnólogo num contexto de pura oralidade;” (Pg. 67)

“O livro não pode ser neutro, uma vez que é "literatura", e se dirige a ele, ao leitor, pela leitura, um apelo, uma demanda insistente. Pouco importa aqui saber se essa demanda é justificada. Para além da materialidade do livro, dois elementos permanecem em jogo: a presença do leitor, reduzido à solidão, e uma ausência que, na intensidade da demanda poética, atinge o limite do tolerável.” (Pg. 68)

“Poderíamos assim distinguir vários tipos de performance,[..] Um deles é a performance com audição acompanhada de uma visão global da situação de enunciação. É a performance completa, que se opõe da maneira mais forte, irredutível, à leitura de tipo solitário e silencioso.
Um outro se define quando falta um elemento de mediação, assim quando falta o elemento visual, como o caso da mediação auditiva (disco, rádio), da audição sem visualização. Em situações desse gênero, a posição entre performance e leitura tende a se reduzir.” (Pg. 69)

“A performance dá ao conhecimento do ouvinte-espectador uma situação de enunciação. A escrita tende a dissimulá-la, mas, na medida do seu prazer, o leitor se empenha em restituí-Ia.” (Pg 69 e 70)

“Na medida em que a poesia tende a colocar em destaque o significante, a manter sobre ele uma atenção contínua, a caligrafia lhe restituiu, no seio das tradições escritas, aquilo com que restaurar uma presença perdida.” (Pg. 73)

“Da performance à leitura, muda a estrutura do sentido. A primeira não pode ser reduzida ao estatuto de objeto semiótico;” (Pg.75)

“A análise da performance revelaria assim os graus de semanticidade; mas trata-se, antes, de um processo global de significação. O texto escrito, em compensação, reivindica sua semioticidade. Só o "estilo" como tal escapole daí em parte.” (Pg.75)

“O mundo me toca, eu sou tocado por ele; ação dupla, reversível, igualmente válida nos dois sentidos. Essa idéia, eclipsada durante um certo tempo, renasce hoje, em uma espécie de volta do rechaçado, e, sem dúvida, ligado ao conjunto de fenômenos contemporâneos que se embrulham sob o termo duvidoso de pós-modernidade.
(Pg. 77)

“É pelo corpo que o sentido é aí percebido. O mundo tal como existe fora de mim não é em si mesmo intocável, ele é sempre, de maneira primordial, da ordem do sensível: do visível, do audível, do tangível.” (Pg. 78)

“Não há ciência do corpo; há a biologia, a anatomia e o resto, conjunto virtualmente infinito, mas não uma ciência do corpo como tal; ainda menos metafísica do corpo. O corpo não pode jamais ser totalmente recuperado.” (Pg. 79).

“O corpo permanece estranho à minha consciência de viver. É o ambiente em que me desenvolvo. Os fatos corporais não são jamais dados plenamente nem como um sentimento, nem como uma lembrança; no entanto, não temos senão o nosso corpo para nos manifestar.” (Pg. 80)

“A presença se move em um espaço ordenado para o corpo, e, no corpo, rumo a esses elementos misteriosos aos quais nos dirigem as flexas que tento aqui esboçar, sem que seja possível determinar, de maneira precisa, o lugar para onde elas convergem.”
(Pg. 81)

“A linguagem corrente, fora de toda idéia preconcebida do que é a "poesia", emprega, às vezes, a propósito de um texto literário, expressões tais como: esse poema ou esse romance, ou essa página meJala, me diz. Ou então invocamos o tom de tal autor.” (Pg.82)

“[...]valores da voz tornam-se os da própria linguagem, desde que ela seja percebida como poética. E esse reconhecimento é independente do fato de que o texto seja (fisicamente ou por um efeito da imaginação) apreendido pelo ouvido ou pronunciado interiormente.” (Pg.84)

“O ouvido, com efeito, capta diretamente o espaço ao redor, o que vem de trás quanto o que está na frente. A visão também capta, certamente, um espaço; mas um espaço orientado e cuja orientação exige movimentos particulares do corpo. É por isso que o corpo, pela audição, está presente em si mesmo, uma presença não somente espacial, mas Íntima. Ouvindo-me, eu me autocomunico.” (Pg. 87)


Cap 2. A imaginação Critica.

“Estamos em plena crise de veridicidade. Nem a filosofia nem a história se referem mais ao verdadeiro. Isto mede a imensidão de uma distância, sobretudo a partir de Saussure e Hjemslev. Perdemos o direito de falar de "ciências" do homem: não somente o direito, mas o gosto.” (Pg. 94)

“[...] o apelo ao pluralismo metodológico, inclinando-o à ambiguidade dos discursos construídos sobre o mundo. O saber se reinterioriza, graças à anulação dos "valores de uso", ao retorno do sujeito, ao triunfo da individuação sobre a ideação, do deslize sobre a ruptura.” ( Pg. 96)

“O velho problema da adequação do método a seu objeto se coloca em termos muito diferentes de outrora, mesmo quando ainda se coloca. Não há objeto em si: essa proposição adquiriu, em nossos dias, valor axiomático. Só há uma relação entre o sujeito pesquisador e aquilo a propósito de que ele se interroga.” (Pg. 96)

“No entanto, a apreensão que, às vezes, apaixonadamente tentamos, implica o corpo: comprometido pelos poderes psíquicos que ele possui e condiciona, mas também pela operação concreta (mesmo simplificada por nossas técnicas) da mão e do olho; [...].”  (Pg. 99)

“A questão é a da natureza de um conhecimento. O que queremos saber, e qual será o estatuto do que teremos aprendido?
Importa clarificar de vez a perspectiva, desde que recorramos ao paradoxo. A operação de todo historiador é da ordem da arte.”  (Pg. 99)

“A ciência parte de uma observação; o saber, de uma experiência que falta articular (como se exprime nosso jargão) em discurso: isto é, em testemunho, pois (enquanto a ciência só se interessa pelo reiterável e só se apossou dele) o saber procede de uma confrontação comovente com o objeto, de um esboço de diálogo com o que ele tem de único.” (Pg.100)

“A ciência, nossa ciência, pretende, é verdade, trabalhar na ordem do necessário; em verdade, na falta de um projeto global ela se abandona ao acaso e, complementarmente, gera-o; desconfia, todavia, como de produtos aleatórios, da arte e da poesia, dos quais provém a única globalidade concebível, mas que não concerne a ela; a única necessidade verdadeira, mas que ela não saberia pensar.” (Pg.101)

“O que esta sociedade espera de nós, pesquisadores, é a produção de um saber lúdico. E esta última palavra, em tal contexto, denota menos a puerilidade que a infância, os valores ontológicos ligados aos primeiros olhares lançados ao mundo, ao maravilhamento e ao sentimento de soberana liberdade que procedem do primeiro desdobrar-se de um conhecimento.” (Pg. 103)

“O saber é um longo, lento sabor. Espontaneamente, nossos contemporâneos o evitam, ávidos que são, ou que se tornaram, de história imediata.[...] A única questão é a de uma corporeidade (interiorizada) do conhecimento: uma implicação, na própria ideia e linguagem que ele traz (e talvez a suscite), da visão, da audição e do inefável contato do qual nasce o amor; ritmos do sangue e do batimento das vísceras, inseparáveis de todo surgimento de uma imagem.” (Pg. 104)

“A "imaginação", faculdade "poética", age segundo duas modalidades. Ela parte de uma apreensão, intensamente concreta, do real particular, mas esta apreensão se faz acompanhar (sem que os tempos nisto se distinguam sempre) de uma colocação das coisas e de uma recomposição dos elementos percebidos, em virtude de analogias diversas: da sorte destaca-se, de maneira inesperada, relativamente à exigência do instante presente, a necessidade verdadeira.” (Pg. 105)

“Procuro minha própria história na singularidade do meu objeto; e ele encontra em mim, como em prospectiva, a sua. Encontra uma paixão: a minha; aquela em que meu discurso conseguirá talvez comunicar à minha volta.” (Pg. 108)

“E em sua qualidade de narração que o discurso mantido pelo historiador declara sua relação com o lugar singular de sua dupla origem. Só assim há uma chance de dar a sentir uma presença e, talvez, uma beleza (para além de todas as decodificações que propõe).” ( Pg. 108 e 109)






COMENTÁRIO:

O livro, Performance, Recepção e Leitura trás uma linguagem rica em reflexões e indispensável àqueles que estudam a oralidade em ação, a leitura e a performance, aspectos abordados no teatro. De qualidade densa, sem deixar se dissipar a teoria do lado humanista e conceitos traçando o caminho entre temas tratados tornando-o mais dinâmico através da proposta do autor Paul Zumthor adotanto métodos de análise sensível.
No texto, ele adota como ideia primária em seu livro, a performance, considerando assim  a forma de comunicação da leitura e a partir deste ponto faz uma ponte entre a leitura, recepção e performance literária e o leitor sobre a obra identificada.

Assim a leitura como situação de oralidade, sendo a formação e a recepção pela audição desta e performance a próxima fase, a ação da leitura e recepção. Performance, é o agir, como sentido e sentimento de extensão, onde o que se expõe é o que se lê e vice-versa.

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