LIVRO: O Jogo
Dramático no Meio Escolar
AUTORA: Jean
Pierre Ryngaert
BOLSISTA:
Liliane Pires
REFERENCIA: RYNGAERT,
Jean P. O Jogo Dramático no
Meio Escolar. Coimbra:
Editora: centelho, 1981.
FICHAMENTO
"Pela minha parte,
não tenho dúvidas acerca do interesse de toda ordem que a criança pode retirar
de um jogo dramático cujo professor supervisionou a preparação e a realização.
Apoiando-se nos conhecimentos adquiridos, as iniciativas da criança e as suas
qualidades de invenção afirmam-se e desenvolvem-se para seu proveito e alegria
pessoal." (p. 14-15, l.37)
"Neste
período de dificuldades econômicas, de retracção dos subsídios ou de
concentração dos meios nas mãos de organizações importantes, mais facilmente
controláveis e que fazem sobretudo <<espectáculos>>, (...)"
(p. 19, l.09)
“Ainda aqui se
põe o problema do papel do professor, pois, apesar de todos os debates e de
todos os dossiers, é ele o verdadeiro catalisador entre os espetáculos e os
alinos que ele tem todo o ano. Cabe-lhe a ele ter em conta as coisas, qual a
intervenção eficaz, qual a que arrisca asfixiar sob um pedagogismo excessivo os
minutos de prazer ou de poesia que o espetáculo possa ter feito nascer.” (p. 21,
l.21)
“Qual o papel do
professor ao lado dos animadores, que tipo de diálogo pode ele encetar com as
equipes de teatro que penetrem no meio escolar?” (p. 26, l.06)
“Uma vez que é este
equilíbrio que faz o jogo, quais as relações que se instauram entre o real e o
imaginário dentro do jogo e, depois, do jogo dramático? Esta pergunta é
decisiva quando fixámos como objetivo para o jogo dramático falar da realidade,
e nos esforçamos por descobrir como é que ele pode falar de forma a
transforma-se num instrumento de análise do mundo.” (p. 41, l.09)
"O teatro cansa-se
inutilmente quando luta no terreno da ilusão contra artes cuja essência é duma
outra natureza. O objetivo consiste em fazer descobrir aos alunos qua a riqueza
da linguagem teatral não está na intenção de fazer crer, mas na de mostrar para
fazer compreender" (p. 63, l29)
"Existe uma
forma de jogo dramático exemplar, um modelo ideal a reproduzir, que respeite
escrupulosamente as tentativas de definição propostas? É evidente que, na
prática, o trabalho depende de um número considerável de contigêntes e
imperativos locais. Como dar conta das práticas senão através de uma acumulação
de anedotas ou de uma teorização excessivamente árida?" (p. 73, l.01)
“Jogo livre com
objetivos quotidianos em função da sua utilidade usual e, em seguida, de
maneira a que eles ganhem um sentido novo pela utilização que se faz deles.”
(p. 91, l.08)
“A passagem do texto
narrativo a uma materialização cénica esconde algumas ratoeiras se os jogadores
não têm uma ideia clara daquilo que querem dizer. A mais frequente consiste em
multiplicar imagens que são uma repetição desnecessária do próprio texto, quer
reduzindo-o a uma banda desenhada (que ainda diz menos), quer acumulando à sua
volta imagens estetizantes e, muitas vezes, redundantes.” (p. 111, l.01)
“Podemos jogar tudo?
Devemos deixar jogar tudo? Para quê deixar jogar histórias tão pouco
interessantes? São as três interrogações comuns a muitos professores e
animadores desiludidos pela observação de dramatizadores estéreis e repetitivas
que imitam, com grande esforço, narrativas estafadas ou decalcadas naquilo que
o mundo tem de mais pálido e mais redutor.” (p. 178, l.16)
“Evitaremos, então,
estas situações conflituosas em que o professor tem a sensação de ser
desapossado da sua turma por um animador demagógico, de passagem, enquanto que
o animador tem a sensação de estar a fazer frente a um professor passivo que só
tolera a sua presença para aproveitar um recreio.” (p. 212, l.22)
“Por fim, e isto é
muito importante, o grupo que joga é o único que pode decidir como é que vai
voltar a jogar e o que fará com as propostas que acabaram de lhe ser dirigidas.”
(p. 224, l.17)
COMENTÁRIO
RELAÇÃO: A importância do professor e o animador
X desenvolvimento da capacidade de jogos dramáticos.
Ryngaert discute em Jogar, representar uma das questões centrais no
atual teatro brasileiro: a profusão de experiências com “não-atores”. Permeando todo o livro está o tema do desenvolvimento
da capacidade de jogo, encarado como resultado do desenvolvimento individual de
todos os seus participantes. “Uma das primeiras peculiaridades que chamam a
atenção na leitura é a derrubada das fronteiras entre os atores e os chamados
‘não-atores’, ou seja, aqueles que, independentemente de idade ou inserção, se
dispõem à experiência teatral sem vinculá-la a nenhuma pretensão de carreira.
Nesse sentido, este livro é sem dúvida um divisor de águas” escreve a
pesquisadora teatral e professora Maria Lúcia Pupo, que assina a introdução da
edição. “O interesse pelo jogo – diz Ryngaert – provém dessa situação de
entre-lugar, nem no sonho nem na realidade, mas numa zona intermediária que
autoriza a multiplicação das tentativas com menores riscos.” É nesta “zona
intermediária” que Ryngaert pensa uma pedagogia do teatro, “questão central
hoje no Brasil”, segundo Maria Lúcia Pupo, se for levada em conta a profusão de
experiências teatrais, “tal como aquelas que ocorrem em escolas, centros
culturais, prisões, organizações não-governamentais, entre outros”. Pensando o
jogo fundamentalmente no tríptico da experiência sensível, da experiência
artística e da relação com o mundo, Ryngaert explora, em Jogar, representar, as
dimensões mais diversas dessa atividade. Por isso mesmo vai tomar para si as
palavras do psicólogo e pediatra inglês D. W. Winnicott, quando este diz que
“jogar é uma forma fundamental da vida”.
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