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sábado, 24 de janeiro de 2015

FICHAMENTO

LIVRO: A Pedagogia do Espectador
AUTORA: Flávio Desgranges
BOLSISTA: Liliane Pires
REFERENCIA: DESGRANGES, Flávio. A Pedagogia do Espectador. São Paulo: Editora Hucitec: Edições Mandacaru, 2003.


FICHAMENTO


“Trata-se aqui, portanto, de investigar a relação há muito acalentada entre o teatro e a educação, sem a pretensão de esgotar as questões levantadas, porém na tentativa de traçar algumas linhas de reflexão que possibilitem, não só afirmar, mas ampliar o entendimento do teatro como importante instrumento educacional. Para isso, foram apontadas algumas reflexões possíveis acerca da relação entre teatro e sociedade, com intuito de investigar a necessidade de teatro que a vida contemporânea permite supor, e assinalar a relevância de uma pedagogia do espectador nos dias que correm.” (p.17, l.20)

 “Se os tearos fossem fechados, não apenas uma porcentagem do público não tomaria conhecimento disso durantes algumas semanas, como disse Grotowski, referindo-se ao público europeu, mas que também grande parcela da população brasileira, provavelmente, nunca se daria conta do ocorrido.” (p.20, l.06)

“Em todos os lugares do mundo, o público de teatro se tornou rarefeito. Existem aqui e ali tentativas de renovação, mas, em seu conjunto, o teatro não consegue nem mesmo divertir... Na Broadway, em Paris, em Londres, a crise é exatamente a mesma.” (p.23, l.13)

“Qualquer iniciativa de formação de espectadores não pode ser reduzida, como temos visto nos últimos anos no Brasil, a campanhas de convencimento que, às vezes, escorrem para um tom demagógico do tipo “a pessoa mais importante do teatro é você” ou investidas esporádicas, que mais lembram campanha de vacinação, do tipo ”vá ao teatro”, como se dissessem: “vacine-se contra a ignorância” (...) O prazer advém da experiência, o gosto pela fruição artística precisa ser estimulado, provocado, vivenciado, o que não se resume a uma questão de marketing.” (p.28-29, l.29)

 “O gosto por uma cultura artística, contudo, se constrói desde a infância. Aproximar crianças e adolescentes das atividades teatrais é de fundamental importância, se quisermos pensar em formar espectadores.” (p.33, l.27)

“É fundamental que a relação do espectador em formação com o teatro não seja a do aluno que cumpre uma tarefa imposta, mas a do sujeito que dialoga livremente com a obra, elabora suas interrogações e formula suas respostas. (...) a ida ao teatro uma atividade que seja, antes de tudo, prazerosa.” (p.67, l. 30)

“A impossibilidade de uma visão global da cultura prejudica a formulação de qualquer síntese que se proponha a dar conta do todo social, pois não há ponto de vista que permita um olhar suficientemente abrangente, que alcance todos os aspectos da vida humana neste momento histórico.” (p.144, l.09)

 “O teatro precisava apresentar um mundo passível de transformação e, como o mundo, a obra teatral poderia ser construída de outras maneiras pelo espectador.” (p.150, l.14)

 “Uma das importantes características da arte moderna foi o estímulo à participação do receptor, convidando-o a estabelecer uma relação co-autoral com o evento, especialmente em uma atitude responsiva, de quem formula interpretações para questões apresentadas pelo autor. A arte contemporânea, por sua vez, pretende levar ao extremo essa atitude proposta.” (p.159, l.09)

 “A característica talvez mais importante de toda a arte recente, mas que já era fundamental na arte de vanguarda, é a flexibilidade.” (p.161, l.04)

“O teatro recente, assim, calcado no estímulo à flexibilidade, provocaria essa capacidade inventiva, ativando uma melhor performatividade, estimulando a “’imaginação’, que permite ou realizar um novo lance, ou mudar as regras do jogo. (Lyotard, 1989,p.106)” (p.163, l.05)

“Para se pensar uma pedagogia do espectador torna-se relevante, entretanto, considerar não apenas a proposta estética que constitui o espetáculo, mas também os procedimentos extra-espetaculares que podem fornecer instrumentos preciosos para uma recepção mais apurada.” (p.175, l.14)

 “A educação artística, no entanto, não pode existir sem a frequentação da arte. (...) Para a conquista da linguagem teatral é importante que se pense, conjuntamente, sobre condições de acesso físico do espectador às salas de espetáculo, porque é na própria experiência artística que o espectador vai descobrir o prazer do ato que lhe cabe.” (p.176, l.06)

“O sujeito da contemplação adquire, assim, condições de relacionar múltiplos signos propostos, formulando novos lances, concebendo jogadas surpreendentes, produzindo conhecimento. E é dos fios dessa produção que ele poderá tecer a trama de novo futuro.” (p.178, l.09)


COMENTÁRIO RELAÇÃO: Espectador Protagonista X Formação do espectador.


A pesquisa do autor é extremamente relevante para o que se passa na escola brasileira, seja devido aos problemas de formação específica dos professores que nelas trabalham com teatro, seja porque, antes de tudo, as condições institucionais não permitem experiências desdobradas no tempo escolar e expandidas na vida social dos jovens. Dada a situação, este livro apresenta uma contribuição inédita para se pensar e instituir o trabalho de formação de jovens espectadores, que não se reduz, por exemplo, à montagem de espetáculos. Ao pensar o espectador como protagonista de um teatro concebido como manifestação cultural em que a dimensão educativa é intrínseca, este livro toca no núcleo das mutações contemporâneas da arte - o deslocamento do interesse pelos simbolismos das obras para o valor simbólico das ações, desligando a arte das categorias ilusionistas, valorizando a apresentação, com consequente ênfase na participação do espectador. Sendo assim, a formação de espectadores não se baseia apenas na formação de plateia, mas na formação artística do indivíduo ao longo de sua vida (no caso, assistido pela escola), lançando-o assim, a coautoria criativa da obra exposta à ele.

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