BOLSISTA: CÁSSIA
BATISTA DOMINGOS
DESGRANGES, Flávio. A pedagogia do espectador. São Paulo:
Hucitec, 2003. 185 p.
“(...) como promover de fato a
atuação do espectador na evolução e nas transformações da arte teatral? Como
tornar efetiva a sua participação no evento? Como levá-lo à sala de espetáculo?
Como despertar seu interesse em frequentá-la?” p. 28
“O despertar do interesse do
espectador não pode acontecer sem a implementação de medidas e procedimentos
que tornem viável seu acesso ao teatro. Na verdade, duplo acesso: físico e linguístico. Ou seja, tanto a
possibilidade de o indivíduo frequentar espetáculos quanto sua aptidão para a
leitura de obras teatrais.” p. 29
“O prazer de assistir a
espetáculos teatrais advém justamente do domínio da linguagem, que amplia o
interesse pelo teatro à proporção que possibilita uma compreensão mais aguda,
uma percepção cada vez mais apurada das encenações.” p. 33
“Brecht sonhava com uma plateia constituída
de iniciados, espectadores aptos a avaliar propostas trazidas à cena, prontos a
elaborar um juízo a cerca dos significados presentes nos elementos cênicos.” P.
35
“Desde os anos 1960 até meados de
1970, artistas e educadores, movidos pela ideia de democratização cultural,
estruturam variadas práticas à ampliação cultural e geográfica do público de
teatro, quanto à difusão da experiência artística em geral.” P. 45
“(...) as companhias que
produziam teatro para crianças acreditavam que, ao formarem espectadores infantis,
estariam preparando espectadores do
futuro.” P. 48
“A partir de meados dos anos
1980, essas práticas teatrais de que vínhamos tratando ganham novo contexto
global (...) Mais do que nunca as companhias de teatro se orientam para o
lucro.” P. 62
“No decorrer dos anos 1990, a
noção de animação teatral vai sendo substituída, nas experiências pioneiras
realizadas na França e na Bélgica, pelo conceito de mediação teatral, mais abrangente e que engloba, também, as
próprias atividades de animação que eram aplicadas em anos anteriores. (...) É
considerado procedimento de mediação toda e qualquer ação que se interponha,
situando-se no espaço existente entre o palco e a plateia, buscando
possibilitar ou qualificar o espectador com a obra teatral, tais como:
divulgação (ocupação de espaços na mídia, propagandas, resenhas, críticas);
difusão e promoção (vendas, festivais, concursos); produção (leis de incentivo,
apoios, patrocínios); atividades pedagógicas de formação; entre tantas outras.”
P. 65-66
“A prática continuada de teatro
por crianças e jovens, aliada à frequentação aos espetáculos, cria uma via de
mão dupla que favorece a compreensão do fenômeno teatral.” P. 72
“O jogador exerce também nesses exercícios dramáticos a função de
espectador, ao observar as improvisações de outros grupos enquanto espera para
apresentar a sua, ou após tê-la apresentado.” P. 73
“O épico é o gênero literário em
que a história é contada tanto por um narrador, em sua descrição dos
acontecimentos, quanto pelos personagens, em diálogos que interrompem a
narrativa.” P. 95
“Assim, o espectador do teatro
épico passa de uma cena a outra, mantendo-se distante do fato apresentado,
analisando seus aspectos e construindo sua compreensão da história narrada.” P.
97
“Ao se deparar com o caráter
histórico e os aspectos sociais dos acontecimentos e ao perceber as
dificuldades do protagonistas de enxergar estes mecanismos sociais que induzem
suas atitudes, o espectador questiona-se a respeito da sua existência cotidiana
e de como ele próprio se relaciona com estas forças invisíveis, tomando
consciência da própria alienação.” P. 99-100
“O acontecimento artístico
completa-se quando o contemplador
elabora sua compreensão da obra. A totalidade do fato artístico, portanto,
inclui a criação do contemplador; na relação entre os três elementos – autor,
contemplador e obra -, reside o evento estético.” P. 122
“As investigações acerca da
formação de espectadores para o teatro estão em pleno curso. Embora algumas
respostas tenham sido encontradas, outras questões surgiram, de modo que o
debate continua.” P. 171
“Na sociedade espetacularizada em
que, em que o show da realidade, por
vezes, substitui a própria realidade, o olhar aguçado aliado ao senso crítico
apurado procura estabelecer novas relações com a vida social e com diferentes
manifestações espetaculares que buscam retratá-la.” P. 177
COMENTÁRIO:
O cuidado em instrumentalizar o
espectador de teatro para uma recepção significativa da obra torna-se cada vez
mais uma necessidade nos dias atuais. Pelo próprio histórico de alienação política e
social de muitas sociedades, não é mais admissível que o acesso físico ao
teatro ainda seja uma dificuldade e, muito menos, que uma grande parcela da
população não se sinta preparada para apreciar criticamente um espetáculo
teatral.
Nós, membros da sociedade, ainda
precisamos das estratégias de mediação cultural que nos ofereçam meios de
acesso físico e simbólico à obra teatral. E para sempre precisaremos de tais
estratégias, visto que as crianças das próximas gerações continuarão sendo
iniciadas enquanto espectadoras.
A perspectiva é de valorizar os
investimentos na educação estética e no desenvolvimento do senso crítico dessas
novas gerações de cidadãos e espectadores. Afinal, arte e educação precisam
caminhar juntas em prol da formação das pessoas e dos mecanismos sociais
produzidos por elas.
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