Fichamento:
Notas sobre a experiência e o saber
de experiência
Jorge Larrosa Bondía
Costuma-se
pensar a educação do ponto de vista da relação entre e ciência e a técnica ou,
às vezes, do ponto de vista entre teoria e prática. Se o par ciência/ técnica
remete a uma perspectiva positiva e retificadora, o par teoria/ critica remete,
sobretudo a uma perspectiva política e critica. (pg. 1, l. 1 a 6)
O
que vou lhe propor aqui é que exploremos
juntos outra possibilidade, digamos que mais existencial (sem ser
existencialista), mais estético (sem ser esteticista), a saber, pensar a
educação a partir do par experiência/sentido. (pg. 1, l. 32 a 36)
As
palavras determinam nossos pensamentos por não pensamos com pensamentos, mas,
com palavras, não pensamos a partir de uma suposta genialidade ou inteligência,
mas, a partir de palavras. E pensar não é somente raciocinar ou calcular ou
argumentar como nos tem sido ensinado algumas vezes, mas é, sobretudo, dar sentido ao que somos e ao que nos
acontece. E isto, o sentido ou o sem sentido é algo que tem a ver com as
palavras. E, portanto, tem a ver com as palavras o modo como nos colocamos
diante de nós mesmos, diante dos outros e diante do mundo em que vivemos. E do
modo que agimos em relação a tudo isso. (pg. 2, l 5 a 17)
As
palavras com que nomeamos o que somos, o que fazemos, o que pensamos,
o que percebemos ou o que sentimos, são mais que simplesmente palavras. E, por
isso a luta pelas palavras, pelo significado e pelo controle de certas
palavras, pela imposição de certas palavras e pelo silenciamento ou desativação
de outras palavras, são lutas que se
joga algo mais do que simplesmente
palavras, algo mais que somente palavras.(pg.2, l. 43 a 54)
A
primeira coisa que gostaria de dizer sobre a experiência é que é necessário separa-la da
informação. E o que gostaria de dizer sobre o saber da experiência é que é
necessário separa-lado saber das coisas, tal como se sabe quando se tem
informação sobre as coisas, quando se está informado. (pg. 3, l. 8 a 13)
Não
deixa de ser curiosa a troca da intercambialidade entre os termos “informação”, “conhecimento”
e “aprendizagem”.
Independente
de que seja urgente problematizar esse discurso que se está instalando sem a
critica, a cada dia mais profundamente, e que pensa a sociedade como um
mecanismos de processamento de informação, o que eu quero é apontar aqui a sociedade construída sobre o
signo[...](pg.3, l.38 a 43)
[...]
da informação é uma sociedade da qual uma experiência é impossível. (pg.3, l.44
e 45)
Em
segundo lugar a experiência é cada vez mais rara por excesso de opinião. O
sujeito moderno é um sujeito informado, que além disso opina. É alguém que tem uma opinião
supostamente pessoal e supostamente própria e as vezes supostamente critica ,
sobre tudo que se passa, sobre tudo quê se tem informação. Para nós a opinião
como a informação, converteu-se num imperativo. (pg.3, l. 46 a 53)
Nessa lógica pela destruição generalizada d
experiência, estou cada vez mais convencidos deque os aparatos educacionais
também funcionam cada vez mais no sentido de tornar impossível que alguma coisa
nos aconteça. Não somente, como já disse, pelo funcionamento perverso e
generalizado do par informação/opinião,
mais também pela velocidade. (pg.4, l. 51 a 57)
Existe
um clichê segundo o qual nos livros e nos centros de ensino se aprende a teoria, o saber que
vem dos livros e das palavras, e no trabalho se adquire a experiência, o saber que vem do fazer ou da prática como
se diz atualmente.(pg.4, l. 76 a 80)
A
experiência, a possibilidade de que algo nos [...](pg. 5, l. 43)
[...]aconteça
ou nos toque requer um gesto de interrupção,um gesto que é quase impossível os
tempos que correm, requer parar para pensar, parar para olhar, parar para
escutar, pensar mais devagar, olhar mais devagar, escutar mais devagar, parar
para sentir, sentir mais devagar, demorar-se nos detalhes, suspender a opinião,
suspender o juízo, suspender a vontade, suspender o automatismo da ação,
cultivar a atenção e a delicadeza, abrir os olhos e os ouvidos, falar sobre o
que nos acontece, aprender a lentidão, escutar aos outros, cultivar a arte do
encontro, calar muito, ter paciência, dar-se tempo e espaço.(pg.5, l. 1 a 12)
Do
ponto de vista da experiência, o importante não é nem a posição (nossa maneira
de pormos), nem a “oposição” (nossa maneira de opormos), nem a “imposição”
(nossa maneira de impormos), nem a “proposição” (nossa maneira de propormos),
mas a “exposição”, nossa maneira de “expormos”, com tudo o que isso tem de vulnerabilidade e de risco. Por
isso é incapaz de experiência aquele que se põe, ou se opõe, ou se impõe, ou se
propõe, mas não se “expõe”. É incapaz de
experiência aquele a quem nada lhe
passa, a quem nada lhe acontece, a quem nada lhe sucede, a quem nada o toca,
nada lhe chega, nada o afeta, a quem
nada o ameaça, a quem nada ocorre. (pg.6, l. 1 a 13)
3. Vamos agora ao que nos ensina a
própria palavra experiência. A palavra experiência vem do latim na experiri,
provar (experimentar). A experiência é em primeiro lugar um encontro que se
experimenta, que se prova. O radical é periri, o ou uma relação com algo que se
encontra também empericulum , perigo. (pg.6,
l. 14 a 19)
Se
a experiência é o que nos acontece, e se o sujeito da experiência é um
território de passagem, então a experiência é uma paixão. Não se pode captar a
experiência a partir de uma lógica da
ação uma reflexão a partir de uma
reflexão do sujeito sobre si mesmo enquanto sujeito agente, a partir de uma
teoria das condições de possibilidade da ação, mas a partir de uma lógica da paixão,
uma reflexão do sujeito sobre si mesmo enquanto sujeito passional. E a palavra
paixão pode referir-se a várias coisas. (pg. 7,
l. 5 a 14)
A
experiência funda também uma ordem epistemológica e uma ordem ética. O sujeito
passional tem também sua própria força, e essa força se expressa produtivamente
em forma de saber e em forma de práxis. O que ocorre é que se trata de um saber
distinto do saber científico e do saber da informação, e de uma práxis distinta
daquela da técnica e do trabalho. O saber de experiência se dá na relação entre
o conhecimento e a vida humana. (pg. 7, l. 76 a 84)
Para entender o que seja a experiência, é
necessário remontar aos tempos anteriores à ciência moderna (com sua específica
definição do conhecimento objetivo) e à
sociedade capitalista (na qual se constituiu a
definição moderna de vida como vida burguesa). Durante séculos, o saber
humano havia sido entendido como umpáthei máthos , como uma aprendizagem no e pelo padecer, no e
por aquilo que nos acontece. Este é o saber da experiência: o que se adquire no
modo como alguém vai respondendo ao que vai lhe acontecendo ao longo da vida e
no modo como vamos dando [...] (pg. 8, l. 36 a 46)
[...] sentido ao acontecer do que nos
acontece. (pg. 8, l. 47)
Se
a experiência é o que nos acontece e se o saber da experiência tem a ver com a
elaboração do sentido ou do sem-sentido do que ainda mais explícito, trata-se
de um saber que revela e nos acontece, trata-se de um saber finito, ligado à existência
de um indivíduo ou de uma comunidade humana particular; ou, de um modo ao homem concreto e singular, entendido
individual ou coletivamente, o sentido
ou o sem-sentido de sua própria
existência, de sua própria finitude. Por isso, o saber da experiência é um
saber particular, subjetivo, do relativo, contingente, pessoal. (pg.8, l.53 a
63)
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