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quarta-feira, 18 de julho de 2012


Fichamento:
Notas sobre a experiência e o saber de experiência
Jorge Larrosa Bondía


Costuma-se pensar a educação do ponto de vista da relação entre e ciência e a técnica ou, às vezes, do ponto de vista entre teoria e prática. Se o par ciência/ técnica remete a uma perspectiva positiva e retificadora, o par teoria/ critica remete, sobretudo a uma perspectiva política e critica. (pg. 1, l. 1 a 6)
O que vou lhe propor  aqui é que exploremos juntos outra possibilidade, digamos que mais existencial (sem ser existencialista), mais estético (sem ser esteticista), a saber, pensar a educação a partir do par experiência/sentido. (pg. 1, l. 32 a 36)
As palavras determinam nossos pensamentos por não pensamos com pensamentos, mas, com palavras, não pensamos a partir de uma suposta genialidade ou inteligência, mas, a partir de palavras. E pensar não é somente raciocinar ou calcular ou argumentar como nos tem sido ensinado algumas vezes, mas é, sobretudo,  dar sentido ao que somos e ao que nos acontece. E isto, o sentido ou o sem sentido é algo que tem a ver com as palavras. E, portanto, tem a ver com as palavras o modo como nos colocamos diante de nós mesmos, diante dos outros e diante do mundo em que vivemos. E do modo que agimos em relação a tudo isso. (pg. 2, l 5 a 17)
As palavras  com que nomeamos   o que somos, o que fazemos, o que pensamos, o que percebemos ou o que sentimos, são mais que simplesmente palavras. E, por isso a luta pelas palavras, pelo significado e pelo controle de certas palavras, pela imposição de certas palavras e pelo silenciamento ou desativação de outras palavras, são lutas que  se joga algo mais do que simplesmente  palavras, algo mais que somente palavras.(pg.2, l. 43 a 54)
A primeira coisa que gostaria de dizer sobre a  experiência é que é necessário separa-la da informação. E o que gostaria de dizer sobre o saber da experiência é que é necessário separa-lado saber das coisas, tal como se sabe quando se tem informação sobre as coisas, quando se está informado. (pg. 3, l. 8 a 13)
Não deixa de ser curiosa a troca da intercambialidade  entre os termos “informação”, “conhecimento” e “aprendizagem”.
Independente de que seja urgente problematizar esse discurso que se está instalando sem a critica, a cada dia mais profundamente, e que pensa a sociedade como um mecanismos de processamento de informação, o que eu quero  é apontar aqui a sociedade construída sobre o signo[...](pg.3, l.38 a 43)
[...] da informação é uma sociedade da qual uma experiência é impossível. (pg.3, l.44 e 45)
Em segundo lugar a experiência é cada vez mais rara por excesso de opinião. O sujeito moderno é um sujeito informado, que além  disso opina. É alguém que tem uma opinião supostamente pessoal e supostamente própria e as vezes supostamente critica , sobre tudo que se passa, sobre tudo quê se tem informação. Para nós a opinião como a informação, converteu-se num imperativo. (pg.3, l. 46 a 53)
 Nessa lógica pela destruição generalizada d experiência, estou cada vez mais convencidos deque os aparatos educacionais também funcionam cada vez mais no sentido de tornar impossível que alguma coisa nos aconteça. Não somente, como já disse, pelo funcionamento perverso e generalizado do par informação/opinião,  mais também pela velocidade. (pg.4, l. 51 a 57)
Existe um clichê segundo o qual nos livros e nos centros  de ensino se aprende a teoria, o saber que vem dos livros e das palavras, e no trabalho se adquire  a experiência,  o saber que vem do fazer ou da prática como se diz atualmente.(pg.4,  l. 76 a 80)
A experiência, a possibilidade de que algo nos [...](pg. 5, l. 43)
[...]aconteça ou nos toque requer um gesto de interrupção,um gesto que é quase impossível os tempos que correm, requer parar para pensar, parar para olhar, parar para escutar, pensar mais devagar, olhar mais devagar, escutar mais devagar, parar para sentir, sentir mais devagar, demorar-se nos detalhes, suspender a opinião, suspender o juízo, suspender a vontade, suspender o automatismo da ação, cultivar a atenção e a delicadeza, abrir os olhos e os ouvidos, falar sobre o que nos acontece, aprender a lentidão, escutar aos outros, cultivar a arte do encontro, calar muito, ter paciência, dar-se tempo e espaço.(pg.5,  l. 1 a 12)

Do ponto de vista da experiência, o importante não é nem a posição (nossa maneira de pormos), nem a “oposição” (nossa maneira de opormos), nem a “imposição” (nossa maneira de impormos), nem a “proposição” (nossa maneira de propormos), mas a “exposição”, nossa maneira de “expormos”, com tudo o  que isso tem de vulnerabilidade e de risco. Por isso é incapaz de experiência aquele que se põe, ou se opõe, ou se impõe, ou se propõe, mas não se “expõe”. É  incapaz de experiência aquele  a quem nada lhe passa, a quem nada lhe acontece, a quem nada lhe sucede, a quem nada o toca, nada lhe chega, nada o afeta, a quem  nada o ameaça, a quem nada ocorre. (pg.6, l. 1 a 13)
      3. Vamos agora ao que nos ensina a própria palavra experiência. A palavra experiência vem do latim na experiri, provar (experimentar). A experiência é em primeiro lugar um encontro que se experimenta, que se prova. O radical é periri, o ou uma relação com algo que se encontra também empericulum , perigo. (pg.6,  l. 14 a 19)
Se a experiência é o que nos acontece, e se o sujeito da experiência é um território de passagem, então a experiência é uma paixão. Não se pode captar a experiência a partir  de uma lógica da ação uma reflexão  a partir de uma reflexão do sujeito sobre si mesmo enquanto sujeito agente, a partir de uma teoria das condições de possibilidade da ação, mas a partir de uma lógica da paixão, uma reflexão do sujeito sobre si mesmo enquanto sujeito passional. E a palavra paixão pode referir-se a várias coisas. (pg. 7,  l. 5 a 14)
A experiência funda também uma ordem epistemológica e uma ordem ética. O sujeito passional tem também sua própria força, e essa força se expressa produtivamente em forma de saber e em forma de práxis. O que ocorre é que se trata de um saber distinto do saber científico e do saber da informação, e de uma práxis distinta daquela da técnica e do trabalho. O saber de experiência se dá na relação entre o conhecimento e a vida humana. (pg. 7, l. 76 a 84)

  Para entender o que seja a experiência, é necessário remontar aos tempos anteriores à ciência moderna (com sua específica definição do conhecimento objetivo)  e à sociedade capitalista (na qual se constituiu a  definição moderna de vida como vida burguesa). Durante séculos, o saber humano havia sido entendido como umpáthei máthos ,  como uma aprendizagem no e pelo padecer, no e por aquilo que nos acontece. Este é o saber da experiência: o que se adquire no modo como alguém vai respondendo ao que vai lhe acontecendo ao longo da vida e no modo como vamos dando [...] (pg. 8, l. 36 a 46)  
     [...] sentido ao acontecer do que nos acontece. (pg. 8, l. 47)

Se a experiência é o que nos acontece e se o saber da experiência tem a ver com a elaboração do sentido ou do sem-sentido do que ainda mais explícito, trata-se de um saber que revela e nos acontece, trata-se de um saber finito, ligado à existência de um indivíduo ou de uma comunidade humana particular; ou, de um modo  ao homem concreto e singular, entendido individual  ou coletivamente, o sentido ou o sem-sentido de sua  própria existência, de sua própria finitude. Por isso, o saber da experiência é um saber particular, subjetivo, do relativo, contingente, pessoal. (pg.8, l.53 a 63)

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