Ficha mento: “
Pedagogia do espectador” de Flavio
Desgranges
A visitação seguia pelas muitas galerias fechadas, quando no
meio de uma das salas surge surpreendente, uma janela que nos deixava ver lá
fora o entardecer da cidade, tendo como fundo, um céu azul cravejado por nuvens
esparsas, recortados pelos pequenos prédios parisienses. Postei –me diante de
uma janela por longo período e percebi que não estava só.(Pg. 13, l. 15 a 20)
Os visitantes entravam e saiam daquela galeria; o movimento
em direção a janela e a paisagem parisiense repetiu por longo período, até que
me retirei da sala e do museu, não sem
guardar cuidadosamente na memória aqueles que para mim foram intensos e raros
momentos.(pg. 14, l. 11 a 15).
No ano seguinte [...](pg.14, l. 16)
Para meu espanto nada acontecia. Não havia ninguém diante
dela, os visitantes passavam pela sala sem o menor interesse pela paisagem
parisiense que a vidraça descortinava. (pg. 14,
l. 20 a 23)
Diferentes horizontes de expectativas foi o que aconteceu
nesse episódio.
Mas adiante, dando sequencia a sua analise, que afirmava
que, em nosso país, se os teatros fossem fechados, não apenas uma
porcentagem do público tomaria
conhecimento disso durante algumas semanas, como disse Grotowski, referindo-se
ao público europeu, mas que também grande parcela da população brasileira,
provavelmente nunca se daria conta do ocorrido. (pg. 20, l. 4 a 9)
Épocas distintas,
contextos diferentes, outras abordagens do mesmo problema. Alguns dos
problemas levantados por Rosenfeld, como a concorrência da televisão e do
cinema em virtude do seu caráter industrial, poderiam ainda está presentes nas
analises atuais, bem com a discussão a cercada das obsolescências da arte teatral. (Pg. 20,
l. 15 a 20).
O esvaziamento das salas teatrais reflete ,
possivelmente o de uma arte
essencialmente coletiva que se vê em confronto com a solidão da era moderna.
(Pg.21, l. 28 a 30)
O filme está lá, pouco se altera. Pode se até mesmo pegar
uma fita de vídeo e vê-la em casa. Com o teatro, evento que requer a
participação do púbico acontece o contrario: sem levarmos em conta a questão de
conforto, uma sala cheio ou a presença
de um bom número de espectadores, incendeia o espetáculo tornando-o mais
prazeroso. (pg. 22, l. 16 a 21)
Não há dúvida que a falta de um público especializado em
nosso país agrava a dita crise: o esvaziamento das salas de espetáculo emudece
o debate. No Brasil, a situação torna-se mais dramática, pois o hábito de
frequentar teatro, nunca se arraigou de
fato na alma do nosso povo. (pg.24, l. 6 a 10).
Além disso, no decorrer desses anos, o teatro se torno menos
uma experiência artística para se compartilhar
e mais um mercado a se conquistar, um produto a ser vendido para um
espectador que se transformou em “consumidor alvo”. (pg. 24, l. 22 a 26).
A pedagogia do espectador não é questão somente para
pedagogos. A capacitação do público para participar ativamente do evento
teatral está fundamentalmente vinculada
a proposição artística que lhe é dirigida, e se estabelece também pela
maneira como o artista trabalha e
compreende o ponto de interseção entre a cena e a sala. (pg. 28, l. 12 a 17).
Portanto, a pedagogia do espectador está calçada
fundamentalmente em procedimentos adotados para criar o gosto pelo debate
estético, para estimular no
espectador o desejo de lançar um olhar
particular à peça teatral, de empreender uma pesquisa pessoal na interpretação
que se faz da obra, despertando seu interesse pela batalha que se trava nos campos da linguagem. Assim
se contribui para formar expectadores que estejam aptos a decifrar os signos
propostos, a elaborar um percurso próprio no ato de leitura da encenação, podo em jogo sua subjetividade,
seu ponto de vista, partindo de suas experiências, sua posição de lugar que
ocupa na sociedade.(pg. 30, l. 1 a 11).
A especialização do espectador se efetiva n aquisição de conhecimento de
teatro, o prazer que ele experimenta em uma encenação, intensifica-se com a
apreensão da linguagem teatral.(pg. 32, l.17 a 19)
A formação do olhar e
a aquisição de instrumento linguísticos capacitam o espectador para o
dialogo que se estabelece nas salas de espetáculo, além de lhe fornecer
instrumentos para enfrentar o duelo que se trava no dia a dia.(pg. 37, l. 2 a
6)
Assim a pedagogia do espectador se justifica também pela
urgência de uma tomada de posição
critica diante das representações dominantes, pela necessária capacitação
do individuo espectador para questionar
procedimentos e desmistificar códigos espetaculares e hegemônico. (pg.38, l. 1 a 5)
Ao pensar a pedagogia do espectador, portanto não se pode desprezar o anseio, o habito, a
expectativa que condiciona o individuo expectador de nosso tempo em sua relação
com os variados meios comunicacionais; meios esses que detém a hegemonia dos
procedimentos estéticos espetaculares e de produção de sentido.(pg.41, l. 4 a
9)
A busca por um teatro aberto, participativo, que comova,
movimente, apaixone e faça pensar é um desejo expresso em varias línguas. Sua
crise não é só nossa. Talvez tenhamos de nos habituar ao fato de que o teatro
é, hoje, um evento para poucos, e por isso, não podemos mais alimentar a visão
antiga e romântica desse gênero como uma instituição de educação e reunião de
todo o povo. (pg. 41, l. 11 a 17).
Os agentes culturais de então almejavam estreitar
relacionamento com uma parcela do público que se encontrava fora do circuito
comercial da arte, articulando uma luta para abrir as instituições comerciais a
todos bem como para levar espetáculos teatrais e promover práticas artísticas
tanto em localidades distantes dos centros urbanos quanto nos mais diferentes
espaços: ( pg. 46, l. 1 a 6)
Nesse período surgiram também importantes experimentos que
tinham em seu horizonte a criança como alvo predileto para renovação do púbico
teatral. (pg. 48, l. 12 a 14).
O então denominado “teatro para crianças” alcança enorme
sucesso principalmente em alguns países da Europa, França, Bélgica, Espanha e
Portugal entre outros e tem também grande expansão em outros países. Estados
Unidos, Canadá, Austrália e Brasil. Trata-se de um movimento que defendia o
direito da criança de possuir uma
produção cultural que lhe fosse especialmente dirigida e seu direito a prática
artística, além de objetivar também a sustentação e transformação da própria
arte teatral. (pg. 48, l. 17 a 25)
O crescimento de produções teatrais para a infância
aconteceu em concomitância com o estreitamento das relações do teatro com a escola.( pg. 49, l. 1 a 3)
O espetáculo motivava atividades múltiplas, tornava-se o
pivô de um estudo que podia interligar diversas disciplinas do currículo
escolar, sendo utilizados como atividade de reforço. A peça propiciava assim a
aplicação de exercícios, visando uma dinamização do aprendizado em diversas
áreas do conhecimento. (pg.52, l. 1 a 7)
As animações de integração aconteciam normalmente, após o
espetáculo e estabeleciam relações entre a encenação vista pelos alunos e
diversas áreas de conhecimento. (pg. 53,
. 1 a 3)
[...] As animações de leitura transversal queriam
sensibilizar os alunos-espectadores tanto para a compreensão do argumento e a
apreciação da história, tanto para a observação dos elementos especificamente
teatrais, chamando sua atenção para a expressão teatral de um argumento, e a
maneira como a temática foi tratada a partir [...]. (pg. 56 l. 24 a 29)
[...] da utilização de recursos de expressividade e comunicação próprios do
teatro. (pg. 57, l.1 e 2)
Algumas companhias de teatro _ especialmente nos países em
que as animações foram usualmente
aplicadas_ conceberam em experimentos realizados na década de 1970 e inicio de
1980, o que pode ser denominado de espetáculo de animação. (pg.58, l. 2 a 5)
As transformações processadas em todos os âmbitos da vida
econômica e social operam profundas modificações na relação do teatro com a
sociedade contemporânea. Essa reestruturação com o papel da arte em nossa
sociedade influi diretamente [...] (pg. 62, l. 27 a 30)
[...] nas práticas de formação de espectadores que passam a
ser enquadrados de maneira diferente no cotidiano dos grupos de teatro
alterando o funcionamento das práticas pedagógicas que vinham sendo
implementadas até esse período.(pg. 63,
l.1 a 4)
As práticas de medição teatral compreendem, assim, não
somente procedimentos artísticos e
pedagógicos propostos diretamente aos espectadores iniciantes, mas, abordam a
formação de espectadores como uma
questão que abrange diversas questões do evento teatral, desde concepção
artística até sua recepção pelo público.(pg. 65, l. 22 a 27)
É fundamental que a relação do espectador em formação com o
teatro não seja a do aluno que cumpre uma tarefa imposta, mas a do sujeito que
dialoga livremente com a obra, elabora suas interrogações e formula sua
respostas. Isso faz que os mediadores culturais estejam cada vez mais
preocupados em tornar ( ou simplesmente manter) a ida ao teatro uma atividade
que seja , antes de tudo prazerosa. (pg. 67,
l. 3 a 9)
Nos jogos de improvisação dramática, o participante pode
exercer todas, ou quase todas, as
funções artísticas da criação teatral, podendo desempenhar na criação de suas
próprias cenas, ao mesmo tempo, a função
de dramaturgo, ator, diretor, cenógrafo, etc.
A exploração das infindáveis possibilidades de construção da cena
favorece o aprendizado da linguagem, assim como a acuidade da observação acerca
das particularidades de cada encenação, chamando a atenção do aluno-espectador
para as opções estéticas dos diversos artistas da criação teatral.
O jogo exerce também nesses exercícios dramáticos a função do espectador, ao observar as
improvisações dos outros grupos enquanto espera para apresentar a sua, ou após
tê-la apresentado. (pg. 73, l. 13 a 25)
Conhecendo bem a evolução do teatro infanto-juvenil, nós
todos sabemos que algumas trupes desenvolvem projetos fabulosos, tendo uma
intransigência extrema acerca da qualidade de suas produções, mas a
proliferação do espetáculo medíocres_ que se vendem muito bem nas escolas a
preços baratos_ contribui para manter na opinião pública, a imagem tradicional,
um pouco débil, que decididamente, está colada a pele do teatro
infanto-juvenil. (pg. 84, l. 12 a 24)
O surgimento do teatro moderno, em fins do século XIX e
inicio do século XX, é proveniente de dois fatores fundamentais: o desenvolvimento cientifico e
as mudanças na estrutura social,política e econômica. (pg.91,
l. 2 a 5)
As novidades cientificas e o desenvolvimento tecnológico do
final do século XIX acrescentaram ingredientes de grande importância para as
transformações teatrais, proporcionando uma verdadeira revolução cênica. A
tecnologia permitiu redimensionar [...](pg. 91 . 16 a 19)
[...]o palco, iluminando a cena, inventando
sonoridade,tonalidades, profundidades, multiplicando sensações. O palco como
nunca antes,torna-se capaz de levar ao espectador a ilusão de está diante da
própria vida.( pg.92, l.1 a 4).
O teatro brechtiano pretendia aliar a emoção um forte teor
reflexivo, o que não levaria a um resultado cênico menos prazeroso. Para ele,
no entanto o prazer também precisaria ser posto em questão. O teatro épico deveria ter como objetivo maior a
diversão, nisso não se distinguia do teatro burguês. (pg. 93, l. 15 a 19).
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