Fichamento do livro Pedagogia do
Espectador de Flávio Desgranges, publicado em São Paulo, SP, pela
editora Hucitec no ano de 2003.
“[...], em nosso país, se os teatros
fossem fechados, não apenas uma porcentagem do público não tomaria conhecimento
disso durante algumas semanas, como disse Grotowski, referindo-se ao público
europeu, mas que também grande parcela da população brasileira provavelmente
nunca se daria conta do ocorrido.”. (p. 20).
“[...] No inicio dos anos 1970, indica
Rosenfeld, ao comentar os motivos apontados, então, por empresários e artistas
para a falta de públicos nas salas, a concorrência da televisão merecia grande
destaque, pois o teatro perdia não só espectadores, mas também atores que,
seduzidos pela vantagem econômica por ela oferecida, não mais se interessavam
pelas produções teatrais. [...]”. (p. 20).
“[...] Uma diferença marcante da década de
1970 para esse início de seculo consiste na ampla expansão e no predomínio de
uma cultura audiovisual estatizada. Além disso, no decorrer desses anos, o
teatro se tornou menos uma experiência artística para se compartilhar e mais um
mercado a se conquistar, um produto a ser vendido para um espectador que se
transformou em “consumidor – alvo””. (p. 24).
“[...] Os espectadores,
participantes interessados, precisam constituir parte atuante do processo. A
qualidade do trabalho de realização de um ator, de um encenador ou de um
dramaturgo não pode ser avaliada apenas por sua capacidade técnica e inventiva
de realização, mas estar fortemente ligada a franqueza, vigor,e interesse com
que, em sua pratica se depara e responde à questão central, aquela que o move:
Por que fazer teatro? Por que ir ao público hoje?”. (p. 28).
“[...]. A atuação do espectador não se
efetiva sem o reconhecimento de sua presença. A voz desse outro integrante do
dialogo situado na platéia só pode ser ouvida se a palavra lhe for aberta.
[...].”. (p. 28).
“[...]. O prazer advém da experiência, o
gosto pela fruição artística precisa ser estimulado, provocado, vivenciado, o
que não se resume a uma questão de marketing.”. (p. 29).
“Público participativo é aquele que,
durante o ato da representação, exige que cada instante do espetáculo não seja
gratuito, o que não significa que seja necessário, portanto, manifestar-se ou
intervir diretamente para participar do evento. [...].”. (p. 31).
“A especialização do espectador se efetiva
na aquisição de conhecimentos de teatro, o prazer que ele experimenta em uma
encenação intensifica-se com a apreensão da linguagem teatral. O prazer estético,
portanto solicita o aprendizado. A arte do espectador é um saber que conquista
com trabalho.”. (p. 32).
"[...], a
impossibilidade (não apenas financeira) da grande maioria das crianças e jovens
brasileiros de ir ao teatro ou mesmo de receber a visita de uma trupe teatral é
um fato. Criar condições para que eles possam ir e ver um espetáculo talvez
seja o primeiro passo a ser dado [...]. Tornar o espectador iniciante mais
íntimo da arte teatral é estimulá-la para um mergulho divertido amplia sua
capacidade de apreender o espetáculo e favorece sua socialização, seu acesso ao
debate contemporâneo, sua integração e participação sociais.” (p. 36).
“Os valores da
televisão são os do mercado, tendo em vista que seu objetivo principal é fazer
vender produtos e serviços, de maneira que, regida pelo máximo lucro, pouco ou
nada avalia os conteúdos e procedimentos estéticos utilizados para manter a
atenção do espectador [...].”. (p. 39).
“Essa constante necessidade de chamar a
atenção do espectador faz que a televisão, ligada a índices diários de
audiência, viva absolutamente no presente, atropelando o passado e mostrando
pouco interesse pelo futuro coletivo.”. (p 40).
“Não seria
exagero supor que a arte teatral possa ser encarada como uma proposição
espetacular pouco habitual, ou mesmo frustrante, para esse superestimulado
espectador contemporâneo. Ao pensar a pedagogia do espectador, portanto, não se
pode desprezar o anseio, o hábito, a expectativa que condiciona o individuo –
espectador de nosso tempo em sua relação com os variados meios comunicacionais;
meios esses que detêm a hegemonia dos procedimentos estéticos espetaculares e
da produção de sentidos.”. (p. 41).
“[...]. Ao pensar a pedagogia do espectador,
portanto, não se pode desprezar o anseio, o hábito, a expectativa que
condiciona o individuo – espectador de nosso tempo em sua com os variados meios
comunicacionais; meios esses que detêm a hegemonia dos procedimentos estéticos
espetaculares e da produção de sentidos.”. (p. 41).
“A busca por um teatro aberto,
participativo, que comova, movimente, apaixone e faça pensar, é um desejo
expresso em várias línguas. [...].”. (p. 41).
“Desde os anos de 1960 até meados de 1970,
artistas e educadores, movidos pela ideia de democratização cultural, estruturam
variadas práticas destinadas à ampliação social e geográfica do público de
teatro, [...].”. (p. 45).
“[...]. É fundamental que a relação do
espectador em formação com o teatro não seja a do aluno que cumpre uma tarefa
imposta, mas a do sujeito que dialoga livremente com a obra, elabora suas
interrogações e formula suas respostas. [...].". (p. 67).
“O teatro brechtiano pretendia aliar
à emoção um forte teor reflexivo, o que não levara a um resultado cênico menos
prazeroso. Para ele, no entanto, o prazer também precisaria ser posto em
questão. [...].". (p. 93).
“A impossibilidade de uma visão
global da cultura prejudica a formulação de qualquer síntese que se proponha a
dar conta do todo social, pois não há ponto de vista que permita um olhar suficientemente
abrangente, que alcance todos os aspectos da vida humana neste momento
histórico. [...].”. (p. 144).
“[...]. Um teatro que propõe ao expectador
que rearrume os pedaços, fazendo suas escolhas, e monte o jogo de peças em
função de suas posições criticas estimulando-o, assim, a produzir
conhecimentos. [...].”. (p. 168).
“Para se pensar uma pedagogia do
espectador torna-se relevante; entretanto considerar não apenas a proposta
estética que constitui o espetáculo, mas também os procedimentos extra-espetaculares
que podem fornecer instrumentos preciosos para uma recepção mais apurada.
[...].". (p. 175).
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