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domingo, 16 de novembro de 2014

Fichamento Uma incursão pela estética da recepção Bolsista: Ana Caroline de Jesus Santos

Uma incursão pela estética da recepção
Edélcio Mostaço

A estética da recepção constituiu-se num tourning point em relação aos estudos literários e – por extensão – aos demais formatos artísticos e culturais que giram em torno da mimesis, da narrativa e das imagens como materiais expressivos. A recepção não é uma dimensão individual, mas um fenômeno coletivo, resultante das manifestações advindas das interpretações singulares ou grupais, dimensionada através das práticas de leitura e agenciamentos históricos efetuados sobre textos e autores. (p.1)

A partir de três ângulos privilegiados – a poiesis, a aisthesis e a katharsis – percorrendo o processo dialógico que envolve o artista e o espectador, fica claro que, mesmo dispensando ênfase à estrutura de significados e interações comunicativas advindas com a obra, a estética da recepção é uma operação comprometida com o processo artístico. (p.1)

Ou seja, as questões relativas aos sentidos provocados pela obra dependem sempre de um contexto e eles são mutáveis, em função das circunstâncias de leitura. (p.2)

“A dificuldade não está em compreender que a arte grega e a epopéia estão ligadas acertas formas de desenvolvimento social. A dificuldade reside no fato de nos proporcionarem ainda um prazer estético e de terem para nós, em certos aspectos, o valor de normas e de modelos inacessíveis”.  Ou seja, ele reconhece que a obra artística detém qualidades autônomas intrínsecas e mobiliza fenômenos de percepção, em modo
trans-histórico, que a isolam e projetam em relação ao determinismo materialista, em função dos agenciamentos desencadeados quando do fenômeno da fruição, fato por ele reiterado ao discorrer sobre a constituição do sujeito: “O objeto de arte, tal como qualquer outro produto, cria um público capaz de compreender a arte e de apreciar a beleza. Portanto, a produção não cria somente um objeto para o sujeito, mas também um sujeito para o objeto”. (p.3)

Santo Agostinho e Tertuliano, nos alvores da cristandade, invectivaram a seu favor, atacando a ilusão presente nos espetáculos; num viés posteriormente reiterado quer por jansenistas quer por jesuítas, cujas proposições permearam as famosas polêmicas que atravessam o classicismo francês; e cujo formato mais acabado está em Rousseau e sua Carta a d’Alembert Sobre os Espetáculos, onde pela vez primeira essa questão da ilusão teatral é associada à manipulação de classe. (p.4)

Estabelecendo vários graus e modalidades de empatia, ele distingue, por exemplo, a atilada postura de Brecht, salientando como o dramaturgo alemão soube manipular “um reconhecimento do efeito e da recepção da obra literária”, ainda que orientando sua produção para a educação do espectador ao invés do prazer estético, transformando a empatia numa atitude reflexiva e crítica. (p.4)
A estética da recepção parte do pressuposto de que a arte é um fazer, uma construção e, como tal, infunde uma dada relação com o leitor/espectador. (p.4)


Alguns conceitos formulados por tais autores são especialmente invocados, como o da arte como construção, como procedimento, como estranhamento, paródia (enquanto desautomação), uma vez que implicam na relação estabelecida com o leitor/espectador. (p.4)

Mesmo propostas estéticas que almejam o distanciamento, o estranhamento, a
ironia (como o dadaísmo, o surrealismo ou Brecht) necessitam partir, no plano da experiência, de uma identificação inicial. (p.5)

Ora, o sensível que entra em comunhão com o sentimento, não é somente o da obra de arte; é também o que Merleau-Ponty chama de ‘a carne do mundo’. Toda carne do mundo pode ser experimentada como objeto estético, até mesmo o porta-garrafa de Duchamp, embora algumas coisas sejam mais que outras, pois o gosto não estetiza soberanamente ou arbitrariamente; ele responde a uma solicitação do objeto: a água não chama o gosto como o vinho nem porta garrafa como uma estátua. [...] é aderir a uma comunhão carnal com todas as zonas erógenas do sensível” (Dufrenne, 1976, p. 16). (p.5)

Essa fronteira cognitiva, saber-falso/crer-verdade, que marca a separação entre o interior e o exterior do teatro, [...] é a mesma que estabelece a diferença intrínseca e substancial entre as emoções estéticas reais e a emoções teatrais. As últimas são emoções estéticas, cuja intensidade e qualidade são determinadas, por uma parte, pelos bem conhecidos fatores pragmáticos (ou contextuais) da relação teatral, e por outra parte, pelos aspectos materiais-expressivos-estilísticos do texto espetacular” (De Marinis, 2005, p. 100). (p.6)

De modo que a recepção, na atualidade, diz respeito a um sem número de agenciamentos no vasto território da cena, apresentando subsídios quer para a pedagogia quer para a história, quer para a sóciosemiótica quer para a análise dos discursos, fomentando plataformas que estão alargando os estudos teatrais. (p.6)

Comentário:


A estética da recepção propõe a reformulação e o rompimento com o exclusivismo da representação da estética tradicional. A proposta estética precisa partir de uma experiência, de uma identificação inicial considerando a relação entre autor, obra e leitor.

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