PONTEIO EM CENA
Projeto de montagem para o 3º B
Colégio Municipal Zulmira Torres
Apresentação
Projeto a ser desenvolvido pelos
estagiários do Pibid Omar Leoni Silva e Maria Joseane de Santana Santo no
Colégio Municipal Zulmira Torres, situado no bairro de Nordeste de Amaralina,
na cidade de Salvador. Tem por público alvo os estudantes do 3º ano B do ensino
fundamental do colégio Municipal Zulmira Torres. Será duas apresentação com
data ainda a ser definida no mês de novembro, nos dias 29 e 30 - sendo a primeiro
no auditório da Escola e a segunda no teatro Martin Gonçalves, na Escola de
Teatro da UFBA.
A partir do dia 12 de julho, os alunos
retomaram o processo com estímulos criativo para a criação de um espetáculo a
ser intitulado ainda. Como estímulo norteador, a lenda africana “O reino do
fundo do mar” conduzirá o processo de criação e improvisação. A lenda segue
transcrita ao final do projeto.
A montagem tem como por objetivo aproximar
os estudantes da cultura africana e em especial da linguagem própria do samba
de roda. Como a lenda retrata a necessidade de se continuar a contar histórias,
pretendemos ainda contar uma das histórias da comunidade ou de um dos alunos
durante a montagem. Para isso, serão consultados os alunos quando a história do
Nordeste de Amaralina, de sua família, etc. É importante ressaltar que as
histórias africanas e as músicas do samba de roda não dizem somente respeito ao
universo mítico e fantasioso em que estão inseridas, mas também ao cotidiano
concreto dessas pessoas, com todas as suas variantes antropológicas.
De princípio, os alunos estão sendo
habituados com o formato da roda, presente tanto na contação de história quando
no samba de roda. E estão sendo instigados a enxergarem a roda como um espaço
de respeito e coletivo, onde cada um possui a sua vez de apresentar, brincar,
jogar. Ainda e estimulado que todos permaneçam na roda juntos. Ainda que os
ensaios e a apresentação não aconteça no formato em de roda, em virtude do
número de alunos e do espaço pequeno do auditório, é fundamental que os alunos
compreendam a linguagem de jogo de roda.
Como o processo de liberação é posterior, a
montagem contará com o processo de sensibilização, criação e ensaio.
No processo de sensibilização, os alunos
serão estimulados a partir de imagens, jogos e objetos a pensarem em uma
África. Partindo então de um lugar “ficcional” onde o jogo possa acontecer,
construiremos o elemento dessa história. Quem conta essa história (quem conta
histórias pra mim)? Como é o lugar que eu vivo (cores, música, cheiro)? Como
são as pessoas (vizinhos, transeuntes)? Quantos idosos existem no meu bairro?
Existe samba no bairro? O que escutamos?
Ainda no processo de sensibilização, será
solicitado aos alunos que eles tragam de casa uma história vivida por seus
pais, por seus tios, avôs, etc.
Como os alunos estarão focados no processo
de jogo, e na construção de uma dramaturgia coletiva, cenário e figurino serão
construídos pelos professores. E dependerá de como a história for costurada.
Para tal, é fundamental que a história pessoal venha à tona.
A sonoplastia ainda estar por ser definida.
Existe a possibilidade de não ser mecânica. Conduítes também podem fazer parte
da composição sonora.
De material, a priori, o que vem sendo
utilizado é o figurino e maquiagem de Dona Aurinda, uma velha contadora de
história que foi introduzida na sala à partir do método do professor
personagem. E um búzio grande, que funciona como um livro para a contação de
história. É possível que este esteja presente na montagem.
CRONOGRAMA
Julho
|
Agosto
|
Setembro
|
Outubro
|
Novembro
|
|||||||||||||||
12
|
19
|
26
|
2
|
9
|
16
|
23
|
30
|
6
|
13
|
20
|
27
|
4
|
11
|
18
|
25
|
1
|
9
|
22
|
|
Sensib.
|
X
|
X
|
X
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Criação
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X
|
X
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X
|
X
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Dramatur.
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X
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X
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X
|
X
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Cenário
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X
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X
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X
|
X
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Figurino
|
X
|
X
|
X
|
X
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Ensaio
|
X
|
X
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O REINO DO FUNDO DO MAR
“AS ONDAS DO MAR FAZEM um barulho tão
gostoso para dormir”, pensava Mazanendaba, deitada em sua cama. Ela morava com
seu marido e filhos em uma vila cheia de casinhas coloridas, na beira de uma
linda praia de ondas fortes. Trabalhava como professora e o marido era
pescador.
Tudo simples, com pouco dinheiro, mas muita
alegria e amor. As crianças brincavam de correr, de esconder, de fazer bolos e
castelos de areia, de pegar jacaré nas ondas e sempre ajudavam sua mãe e seu
pai. Nas horas vagas, o pai gostava de fazer pequenas esculturas com restos de
madeira que chegavam à praia. Das mãos dele nasciam bichinhos como peixes,
águias, macacos, cachorros, cheetas (que
é um tipo de onça da África) e muitos outros que encantavam a meninada. Dos
gestos e palavras de sua mãe, nasciam vários ensinamentos, que iluminavam os
olhos das crianças.
Um dia, Mazanendaba acordou e percebeu que
o Sol não estava tão brilhante, que mar não estava tão azul e que as casinhas
coloridas da vila tinham perdido um pouco de suas cores, “O que será que está
acontecendo?” Até o gosto da comida já não era o mesmo. Nos dias seguintes, a
situação piorou. As flores não tinham tanto perfume, os tambores não tocavam
tão forte e as ondas do mar já não faziam aquele barulho bom de dormir.
Depois de muito conversar com os vizinhos,
Mazanendaba encontrou a razão de todas aquelas mudanças. Ela percebeu que as
mães, inclusive ela, os pais, os tios, as tias, os avós e avôs de sua vila não
contavam mais histórias para as crianças e para os jovens. As pessoas já não
sentavam em volta da fogueira, já não paravam para ouvir os mais velhos. E o
que era pior: todos estavam se esquecendo de como se contavam histórias.
- Nossas historias fugiram para algum
alugar em uma noite sem lua – disse Gogo Lelê, a vovó mais velha da vila.
Então, Mazanendaba decidiu ir atrás das
histórias, para que sua vila não morresse de tristeza. Em uma noite de lua
cheia, deu um beijo nos filhos e no marido enquanto eles dormiam e saiu de
fininho rumo à floresta, que ficava atrás da montanha. Andou, andou, andou até
cansar. Logo entrou na mata, encontrou uma grande lebre cinza que se preparava
para dormir em sua toca:
- Boa noite. Dona lebre. A senhora viu
passar por aqui um grupo de historias?
- Como elas são? – perguntou com
curiosidade a lebre.
- Elas são de todo tipo: grandes e
pequenininhas, novas e antigas, de verdade e inventadas, gordas e magras,
coloridas e transparentes, de medo e sem medo. Mas todas falam a linguagem do
coração.
A lebre coçou a cabeça e disse:
- Olha, eu não vi nada, não. Mas posso te
dar uma história que eu conto para os meus filhotes. Assim, você poderá voltar
para sua vila com algo nas mãos.
A lebre então pigarreou e se preparou para
contar a história:
- Era uma vez... – parou de repente. – Era
uma vez... – tentou de novo. – Era uma vez... – falou desesperada. – Acho que
me esqueci das minhas histórias – e arregalou os olhos para Mazanendaba. – Elas
me abandonaram também! O que vou contar para meus filhotes?
Mazanendaba fez um cafuné na cabeça da
lebre e disse:
- Não se preocupe, dona lebre. Vou
descobrir para onde elas foram,
E partiu imediatamente, entrando cada vez
mais fundo na mata. Sem querer, esbarrou em uma cobra, que logo começou a
esbarrar o chocalho de seu rabo:
- Quem vem aqui atrapalhar meu sono? –
perguntou a cobra, assustada, por que as cobras também tem medo.
- Perdoe-me, eu não queria acordá-la –
lamentou a mulher. – Meu nome é Mazanendaba, filha de Gcina e mãe de Jabulani,
Lungile e Themba. Estou procurando as histórias que fugiram da minha vila.
- Mulher, elas estão mais pertos de sua
vila do que você imagina – e, rapidamente, dona cobra sumiu no mato.
Mazanendaba ficou pensando por que essa
cobra fazia tanto mistério e falava as coisas pela metade. Seguiu seu caminho.
Passou mais um tempo e ela encontrou um babuíno, macaco muito esperto que mora
nas florestas da África.
- Sei, sei, sei... procura as histórias que
fugiram... Você não tem coisa mais importante para fazer? Do tipo: você sabe se
os seus filhos, nesse momento, estão com sede, fome, ou frio? Se eles estão
agasalhados? Isso, sim, faz mal para eles. Vives sem histórias não é tão mal
assim - falou o babuíno, recriminando a
mulher.
Mazanendaba não gostou nem um pouco do
jeito do macaco:
- O senhor é tão sabido, mas parece que não entendeu. As histórias
trazem força e magia. Trazem sabor pra nossas comidas e cores pra nossa vida.
Como o senhor pode viver sem histórias? Como?
O babuíno ficou sem graça e olhou para o
chão, encabulado:
- Eu também me esqueci das histórias –
confessou. – Faz tanto tempo que nem me lembro mais.
Então, Mazanendaba entendeu:
- Tudo bem! Não se preocupe, seu babuíno.
Eu vou achá-las – e deixou uma pequena fruta de sua bolsa para o macaco.
O dia estava quase raiando quando
Mazanendaba encontrou uma coruja que não queria conversar.
- Dá licença, dá licença que eu quero
dormir. Trabalhei a noite toda e não sei como ajudá-la - e pousou bem alto numa
bela árvore da floresta.
- Está bem, não vou atrapalhá-la - disse Mazanendaba.
O pai Sol já estava firme no céu, quando
Mazanendaba sentou-se, cansada, embaixo de uma árvore para comer um
lanche. Estava pensando na vida, meio
desanimada, quando apareceu uma elefanta bem grande.
- Mulher, soube da sua busca pelas
histórias. Não sei onde estão, mas acho que a dona águia pode ajudá-la. Ela voa
muito alto e tem olhos que enxergam longe. Procure-a! –aconselhou a elefanta.
Mazanendaba agradeceu e lhe deu um punhado
de ervas que carregava em sua bolsa. A elefanta pegou as ervas, balançou as
orelhas gigantes e partiu para se reunir ao resto da manada.
Mazanendaba lembrou que conhecia uma águia
pescadora que morava perto de sua casa. Será que a resposta estava tão perto de
sua vila, como disse a cobra? Juntou as coisas na sua bolsinha de pano e voltou
para vila tão rápido quanto pôde. As crianças e o marido a cobriram de beijos e
abraços quando ela chegou.
No dia seguinte, dona águia pescadora
estava lá no céu, linda e poderosa. Quando ela se preparava para dar um vôo
rasante para pegar uma sardinha, Mazanendaba gritou:
- Dona águia, vem cá!
A concentração foi embora e a águia perdeu
a presa. Ela ficou muito brava com a mulher:
- Viu o que você fez? – gritou.
- Desculpe, dona águia, foi sem querer –
lamentou Mazanendaba. – Preciso de sua ajuda. Acho que só a senhora pode salvar
nossa vila.
A águia pescadora ficou intrigada. Resolveu
pousar na praia e ouvir o que aquela mulher queria. Depois de ouvi-la, falou:
- Já sei como ajudá-la! Você terá que
encontrar um golfinho e pedi a ela que a leve ao reino do fundo do mar. Lá
existe um rei e uma rainha encantados, que vive com o espírito daqueles que já
partiram desta terra. Com certeza você encontrará lá a resposta para o que
busca.
Em retribuição à ajuda de dona águia.
Mazanendaba pegou o peixe que seu marido havia pescado para o jantar e colocou
em frente ao pássaro. A águia agradeceu, mas não aceitou o presente:
- Obrigado, este peixe é para a sua
família. Não se preocupe, vou buscar um outro para mim, eu adoro pescar! –
Abriu as asas e voou bem alto.
Lá de cima a águia gritou:
- Espere o golfinho chegar. Eu vou
procurá-lo e ele te chamará.
E sumiu no horizonte.
Mazanendaba ficou dias e noites esperando o
golfinho e nada dele chegar. Mesmo quando cozinhava, cuidava de seus filhos ou
ensinava na vila, seus olhos estavam sempre fugindo para o mar. “Será que ele
virá?” E ela rezava para que os antepassados e os deuses e deusas da natureza o
trouxessem logo, pois a vila havia se transformado em um lugar cinza, sem vida.
As cores haviam partido.
Então, em uma noite de lua cheia, deitada
na cama, Mazanendaba ouviu um assobio lindo, daqueles que entram no coração da
gente. Era o golfinho! Ela se levantou, beijou o marido e os filhos que dormiam
e correu para a praia. Enfim, ele havia chegado.
Mazanendaba entrou nas águas do mar e nadou
até o golfinho. Ele era tão lindo! Tinha um olhar cheio de carinho, daquele que
aquece a alma da gente. Era curioso e sorria o tempo todo. pediu para
Mazanendaba subir em suas costas. Ela obedeceu e lançou um ultimo olhar para a
lua antes de mergulhar nas águas escuras.
E o golfinho foi descendo e descendo para o
fundo do mar, até um lugar onde o brilho da lua nem o calor do sol chegavam. No
meio daquela escuridão, quando Mazanendaba sentia medo, o golfinho dava um
assobio delicado como uma música e logo o medo ia embora.
Foi quando uma luz lilás surgiu no fundo e
começou a crescer, crescer, e, de repente, surgiu o reino do fundo do mar.
- Este lugar é lindo! – falou Mazanendaba,
deslumbrada.
Logo encontraram uma grande concha
brilhante, onde morava o rei e a rainha.
- Estávamos esperando por você, Mazanendaba.
Sente-se e descanse – disse a rainha.
E ela se acomodou numa concha pequenininha.
- Muitas histórias vivem aqui conosco –
contou o rei – junto com os espíritos que partiu de suas terras quando
morreram. Para que as histórias vivam também em sua vila e a chama dos
antepassados se mantenha acesa é necessário que vocês sempre as conte em uma
roda, ou para as crianças que se aninham em seus colos – revelou ele.
- as histórias vivem quando vocês as contam
e as reinventam. É assim que a magia acontece e tudo ao redor fica mais
brilhante e colorido, cheio de vida! – falou a linda rainha, que tinha o cabelo
crespo e negro, pontilhado de pérolas brancas.
Então, o rei chegou pertinho de Mazanendaba
e falou:
- Nós temos um pedido a você. Gostaríamos
de conhecer o lugar onde estão as histórias aqui guardadas. Como não podemos
visitar sua vila, você poderia nos trazer uma imagem de sua família e do local
aonde vivem?
- Claro! Já, já! – disse Mazanendaba.
Ela rapidamente se despediu da rainha e do
rei e pulou nas costas do golfinho para voltar à vila. Lá, contou tudo para a
família e seus vizinhos
Logo o marido pegou um pedaço de tronco de
árvore que foi derrubado por um forte raio na última tempestade e com mãos
ágeis foi esculpindo a vila onde moravam, a vila, a família e a comunidade, as
montanhas e a floresta ao fundo e até a águia pescadora no céu. Toda a
vizinhança ficou olhando o escultor trabalhar, dando palpite para que o quadro
ficasse o mais bonito possível. Depois de concluído, todos foram para a beira da
praia desejar boa sorte para Mazanendaba com o golfinho nas ondas do mar.
Quando chegaram ao reino no fundo do mar,
Mazanendaba entregou o quadro para a rainha e para o rei. Depois contou sobre a
beleza da vila, o nome das pessoas e animais que estavam no quadro. Os
espíritos dos que partiram da terra foram se aproximando para ouvir e também
para contar histórias das comunidades que conheciam. O rei e a rainha ficaram
muito felizes e o fundo do mar brilhou mais lilás do quê nunca. A rainha então
tirou de uma linda concha mágica e deu-a a Mazanendaba, dizendo:
- Quando você quiser contar uma nova
história para alguém, encoste essa concha no ouvido, e deixe o barulho do mar
entrar no seu coração as histórias virão como ondas, irão se transformar em
palavras e depois ganharão o mundo.
Mazanendaba agradeceu a rainha, ao rei e a
todos os espíritos do fundo do mar e voltou com o golfinho para sua vila. A
comunidade a esperava em grande euforia.
Naquela mesma noite, uma roda se formou e
ninguém, adultos ou crianças, queria parar de ouvir histórias.
- Só mais uma, Mazanendaba – suplicava uma
menininha. Mas já era tarde, hora de visitar o reino dos sonhos.
Dias depois surgiram mais rodas de
histórias na vila e, depois, em outras vilas e, depois, em outras cidades, reinos
e continentes. E todos os animais das florestas, savanas, desertos e montanhas
da África e do mundo todo também se lembram de suas histórias.
Hoje, existem muitas rodas de história no
mundo. Histórias de todo o tipo. Desde o tempo de Mazanendaba, elas foram sendo
contadas por avós, avôs, pais, mães, tios, jovens, crianças e se transformaram
e ganharam outras cores, formas e brilhos.
Tornaram-se eternas, alimentando a
imaginação dos pequenos e dos grandes e mantendo acesa a chama dos espíritos
que já partiram.
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