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domingo, 16 de novembro de 2014

CULTURA AFRO-BRASILEIRA NO ENSINO DE TEATRO NO PIBID: RELATO DE EXPERIÊNCIA. Artigo apresentado no I seminário de artes, educação e relações étnico-raciais do CEFET- Rio de Janeiro em agosto de 2014.

 CULTURA AFRO-BRASILEIRA NO ENSINO DE TEATRO NO PIBID: RELATO DE EXPERIÊNCIA.

Autora: Ana Caroline de Jesus Santos/ UFBA[1]
Co-autores: Luiz Cláudio Cajaiba Soares[2]
 Gustavo José Jaques de Melo[3]
Área Temática: Experiências Educacionais.


RESUMO

O artigo relata a experiência dentro do Programa Institucional de Bolsas de Iniciação à Docência, na qual ministrei aulas de teatro baseadas na Lei 10.639/03, nos Parâmetros Curriculares Nacionais de arte e no conceito de patrimônio imaterial, para crianças do ensino fundamental II, do Colégio Estadual Dom Avelar, Salvador – BA. Abordando pedagogia triangular de Ana Mae Barbosa, através de atividades lúdico-pedagógicas, refletindo sobre como aulas de teatro contribuem para a identificação e valorização da cultura de origem afro-brasileira na escola pública.

Palavras-Chaves: Cultura afro-brasileira; Teatro-educação; Patrimônio imaterial.

INTRODUÇÃO

 

O presente artigo relata a minha prática educacional como bolsista do Projeto Institucional de Bolsista de Iniciação à Docência – PIBID, ocorrida no segundo semestre do ano de 2013, com os alunos do sexto ano do ensino fundamental II na Escola Dom Avelar Brandão Vilela, situada no bairro da Fazenda Grande do Retiro em Salvador – Ba. Sob a supervisão da professora Camila Bonifácio; iniciei meus trabalhos conhecendo o projeto “NEGRIFICAR”, criado e dirigido por ela mesma. Esse trabalho tem como objetivo central realizar atividades durante o início do segundo semestre do ano letivo com exposição de fotografias, imagens, poesias, mostras cênicas e performances, para serem apresentadas no mês de novembro em comemoração ao dia da consciência negra. Como aluna do curso de licenciatura em teatro da Universidade Federal da Bahia e bolsista do projeto, busquei aprofundar meus conhecimentos relacionados ao teatro-educação, pesquisando possibilidades metodológicas para o ensino da cultura afro brasileira. A partir de observações das aulas ministradas pela professora Camila Bonifácio[4], me inseri no âmbito escolar utilizando as reflexões de Ana Maria Amaral (1996) com o teatro de formas animadas e Ana Mae Barbosa (2006) (ver, fazer, contextualizar). 

O planejamento exigido para o segundo semestre na turma do sexto ano fundamental foi:

·         Teatro e arte literária

·         Teatro de formas animadas

·         Protagonismo juvenil e o teatro: classe, etnia e gênero.

   Dessa forma, foi possível construir caminhos metodológicos para que os alunos não desenvolvessem apenas uma atividade marcada no calendário escolar como um simples evento extra cotidiano, mas também o conhecimento, compreensão, ressignificação e a valorização da sua própria cultura e identidade por meio de ações reflexivas e sensíveis.


EDUCAÇÃO AFRO-BRASILEIRA

 

   Com mais de 10 anos de existência, a Lei 10.639/03, que institui o ensino de história da África e cultura afro-brasileira nas escolas regulares do país, ainda não promoveu a transformação da realidade educacional brasileira. A conquista dessa Lei foi um marco importante para a história do negro no Brasil, fomentada pela luta contra a discriminação e por igualdade de direitos que vão desde a inclusão de elementos da cultura Afro-Brasileira à História da África nos programas políticos pedagógicos das instituições de ensino. Com tudo isso, nota-se um descaso na aplicação da Lei e na utilização de elementos da cultura de matriz africana no conteúdo curricular das escolas, possivelmente por questões religiosas ou de preconceitos de ordem diversas, tornando-a ineficaz.  Deixando questões centralizadas no aspecto cultural e histórico, acredito ser necessário a união dos professores para que a temática da cultura Afro-Brasileira passe a ser desenvolvida por todas as disciplinas e não somente em história, artes e literatura como previsto na Lei. Por que não ser abordado pelas disciplinas de geografia, sociologia, matemática, ciências, entre outras? 

De que forma as artes e especificamente o teatro podem contribuir com a propagação da cultura Afro-Brasileira? A Lei representa uma porta para começar a escrever e reescrever uma nova história, uma perspectiva de enxergar a humanidade de outra forma.

 

OS CAMINHOS

 

O planejamento das aulas foi realizado para além do projeto “NEGRIFICAR” no mês de novembro. As atividades foram desenvolvidas mediante o conteúdo programático para o segundo semestre, ficando organizado dessa maneira:

·         Contação de lendas africanas

·         Formas animadas – criação de bonecos, máscaras e bonecos de meia.

·         Contextualização – pesquisa, construção de texto e a apresentação da mostra “Revolta dos Búzios”.


 Partindo do pressuposto que o teatro não é uma disciplina única e dissociada da história, filosofia, sociologia etc., entende-se que o teatro tem seu papel interdisciplinar na sala de aula, possibilitando o surgimento de novas propostas. Por meio dos aportes teóricos e reflexivos; da pedagogia triangular de Ana Mae Barbosa (2006), do Manual de Criatividades de Paulo Dourado e Maria Eugenia Milet (1998), Jogos teatrais: o fichário de Viola Spolin (2006) e do conceito de patrimônio cultural brasileiro
[5], foi formulada a sugestão de novas propostas, expostas na tabela a seguir.

Em vista desse planejamento, meu objetivo foi o de fazer com que os alunos os estudantes envolvidos (a maioria negros) sobre a importância da cultura negra, deixando claro que estamos imersos nesta cultura através da língua, da música, das comidas e tradições que permeiam o nosso cotidiano e, assim, entender a nossa identidade como povo.
Os PCNS de Arte afirmam que os alunos devem ser capazes de:

Posicionar-se de maneira crítica, responsável e construtiva nas diferentes situações sociais, utilizando o diálogo como forma de mediar conflitos e de tomar decisões coletivas; conhecer e valorizar a pluralidade do patrimônio sociocultural brasileiro, bem como aspectos socioculturais de outros povos e nações, posicionando-se contra qualquer discriminação baseada em diferenças culturais, de classe social, de crenças, de sexo, de etnia ou outras características individuais e sociais. (1998, p. 07)


A partir dessas observações, trago reflexões sobre como as aulas de teatro podem contribuir com o aprendizado, a compreensão, conhecimento, identificação e valorização de nossos bens imateriais e da cultura afro brasileira nas escolas.


A PRÁTICA


No primeiro dia me apresentei para a turma como aluna da Escola de Teatro da Universidade Federal da Bahia e bolsista do projeto PIBID. Em seguida assisti à mostra das cenas criadas pelos alunos durante a construção de bonecos de materiais descartáveis como, plásticos e alumínio, realizadas nas aulas de arte no semestre anterior. Na aula seguinte procurei dar continuidade ao processo já iniciado com o teatro de formas animadas e realizei atividades a partir da contação de história, extraída da obra Peregum e outras fabulações da minha terra, de autoria de Félix Ayoh Omidire (2006) [6]
De início propus um jogo, mas muitos estudantes estavam acostumados a tratarem-se entre si de modo agressivo, o que causava dispersão. Propus então a contação de história, e todos permaneceram sentados em círculo ouvindo a história da princesa Peregum, que era tirana e desobediente aos pais e procurava um noivo para casar. A todo o noivo apresentado por seu pai ela colocava um defeito, dizendo que iria se casar com o mais belo e mais rico. Um dia um estrangeiro em seu cavalo agradou a princesa. Ela desafiou a família, que por ser tradicional, não permitia o casamento com estrangeiros. Mesmo sabendo disso a princesa continuou a desafiar suas crenças e tradições familiares, casando-se com o príncipe de origem desconhecida. Mais tarde o príncipe se mostra como um espírito da floresta, que não tinha nenhuma riqueza, nem reino. Transforma-se num monstro sem membros com uma enorme cabeça. A princesa desobediente aos pais, ficou com ele presa na floresta, assustando a todos que passam com seu choro de tristeza.
Ao final da leitura do conto foi aberto um debate em sala para que os alunos apontassem suas dúvidas referentes ao conteúdo da leitura.
A “contação” da lenda Peregum aproximou os alunos do seu contexto de vida. Questões tais como: saber escutar, ambição, valores familiares, comportamento, educação e o respeito dentro da escola e da sala de aula foram levantadas e discutidas e os estudantes constataram que deveriam modificar seu comportamento. Os resultados dessa experiência foram percebidos nos muitos comentários que foram compartilhados pelos alunos, me deixando bastante satisfeita e orgulhosa com a atividade. Tratava-se de uma turma com 31 estudantes, que sentados em círculo ouviram a lenda, em silêncio, diferentemente da atividade anterior, num clima de dispersão.
Na aula seguinte eles fizeram desenhos, de maneira a ilustrar o entendimento relacionado à contação, mostrando o que mais se destacou. A partir daí propus a confecção de bonecos usando jornal, revistas e fita crepe. Foram três dias de produção até que os mesmos ficassem prontos, conforme reproduzido nas fotos abaixo.

[FIGURA 1]
Fonte: Arquivo do autor, Novembro de 2013.

O próximo passo foi a criação de cenas em grupo usando os bonecos de papel/jornal. Os alunos construíram uma história onde todos os bonecos do grupo ao qual pertenciam estivessem em cena. Alguns alunos criaram o cenário, lembrando o ambiente descrito na lenda da princesa Peregum. Em Teatro de formas animadas, Ana Maria Amaral relata as experiências do ator russo Sergei Obraztsov, que considerava o teatro de bonecos muito importante para a formação das crianças. De acordo com ele, é através do teatro de bonecos, pelo menos na Rússia, que as crianças tomam contato com o mundo das artes: a mímica, a pintura, a escultura, a literatura etc. (AMARAL, 1996, p.125).
Terminando essa etapa, iniciaram-se os ensaios e as experimentações cênicas e a maioria da turma participou, culminando numa pequena apresentação em sala de aula para os colegas envolvidos. A proposta, durante todo o processo, fundamentou-se na brincadeira e no jogo infantil do “faz de conta”, o que se refletiu na cena. 

Trabalhar com o teatro na sala de aula, não apenas fazer os alunos assistirem às peças, mas representá-las, inclui uma série de vantagens obtidas: o aluno aprende a improvisar, desenvolve a oralidade, a expressão corporal, a impostação de voz, aprende a se entrosar com as pessoas, desenvolve o vocabulário, trabalha o lado emocional, desenvolve as habilidades para as artes plásticas (pintura corporal, confecção de figurino e montagem de cenário), oportuniza a pesquisa, desenvolve a redação, trabalha a cidadania, religiosidade, ética, sentimentos, interdisciplinaridade, incentiva a leitura, propicia o contato com obras clássicas, fábulas, reportagens; ajuda os alunos a se desinibirem-se e adquirirem autoconfiança, desenvolve habilidades adormecidas, estimula a imaginação e a organização do pensamento... Na realização de cenas dramáticas destaca-se o exercício de fazer de conta, fingir, imaginar ser outro, criar situações imaginárias etc. (ARCOVERDE, p. 60).


Na terceira aula os alunos realizaram a confecção de bonecos e bichos feitos de meias e materiais recicláveis como botões, linhas, retalhos de tecidos, papelão e cola quente. Lembrando a lenda da princesa Peregum, após a confecção dos bonecos de meia, os alunos também criaram uma pequena cena que foi apresentada aos colegas de classe. Quase sempre eles criaram o texto dramático, que sempre começava com a frase, eram uma vez..., lembrando o início dos contos de fadas infantis.




Os contos tradicionais, ou os contos de fadas, são a melhor expressão desse imaginário. E quando esses contos são transmitidos à criança verbalmente, ela se deixa embalar pelo tom do narrador, por ser um sinal; e quando vê aspectos dessas histórias representados em imagens, essas imagens, ou figuras, ativam outras criadas por sua própria imaginação... (AMARAL, 1996, p. 171).

Era visível a alegria dos alunos no momento de criação e principalmente após a criação do seu boneco/personagem. Embora tímidos, durante a apresentação conseguiram atingir suas metas e apresentar a história, criada por eles mesmos, através dessa técnica de manipulação, onde o objeto expressou o que eles pensavam.
                                                      
Criação de máscaras africanas.

 Protagonista da cultura africana, a máscara tem caráter místico absorvendo energias espirituais e da própria natureza.

As máscaras africanas geralmente são esculpidas em madeira, a sua confecção passa por rituais desde a escolha de quem vai confeccioná-la até o ritual de purificação pelo qual o escultor irá passar, para que possa a partir daí, nascer uma nova máscara em substituição de outra. Quando essas máscaras estão expostas em algum museu, toda essa sacralidade não é visível aos olhos do público, as pessoas só podem observá-las enquanto escultura, mas, a estética dessa escultura tem algo de diferente...  (FERREIRA, s.d.)


Para a confecção das máscaras os alunos realizaram uma pesquisa na internet para identificar o contexto histórico em que as mesmas estavam inseridas, conhecer o modo de confecção e o modo como apresenta-las em uma exposição. Além disso, escolheram imagens para o momento da confecção individual, sempre utilizando material reciclável, jornal, cola, vasilha com água, bexiga e tintas para colorir, depois de prontas.
O primeiro passo foi desenhar as máscaras para que tivessem o esboço do que iriam construir. Em seguida, rasgaram todo o jornal em pedaços pequenos e mergulharam em uma vasilha plástica com água e cola, enquanto enchiam a bexiga para servir de suporte para a máscara a ser criada. Desta forma, foram colando aos poucos os pedacinhos de jornal, camada sobre camada, dando consistência ao trabalho e ao formato da máscara. A continuidade desse processo foi realizada em casa, onde os alunos esperaram o tempo de secagem do material para depois cortar e pintar, finalizando o processo.


No teatro de formas animadas, os objetos materiais inanimados (máscaras, boneco, objeto ou simples imagem) ganham vida e passam a representar essências (por extensão da energia do ator manipulador). E, ao se tornarem personagens, isto é, ao serem animados, perdem a caraterísticas de corpo material inerte e adquirem anima, isto é, a alma, passando a transmitir conteúdos, substancias. (AMARAL, 1996, p. 243)


Os bonecos de jornal e as máscaras foram expostas no projeto “NEGRIFICAR”. Todas as turmas da escola participaram das mostras teatrais, da leitura de poemas, apresentações musicais, entre outras atividades. Esse foi um momento muito positivo na troca dos saberes sobre a cultura afro-brasileira. A presença da figura humana, tanto com os bonecos de jornal, sucata e máscaras, quanto na lenda da princesa Peregum, apontam para uma reflexão sobra a necessidade de preservação dos valores tradicionais, étnicos, religiosos e estéticos da cultura africana presentes na cultura brasileira.

 

[FIGURA 2]

Fonte: Arquivo do autor, Novembro de 2013.

 

 

Mostra cênica A Revolta dos Búzios.

 

 Luiz Gonzaga das Virgens, João de Deus do Nascimento, Lucas Dantas de Amorim Torres e Manuel Faustino dos Santos Lira, quatro homens negros condenados pelo crime de lesa-majestade, foram enforcados e esquartejados em praça pública, Praça da Piedade na cidade de Salvador Bahia no dia 08 de novembro de 1799. Um movimento político protagonizado por homens livres, pobres, milicianos e soldados, que contou com o conhecimento de outras pessoas, entre elas alguns cativos. (Cf. VALIM, 2007, p. 222)

A Conjuração Baiana, Revolta dos Búzios, Revolta dos Alfaiates são alguns nomes dados a esse fato histórico ocorrido na manhã do dia 12 de agosto de 1798. Essa história está relatada nas cartilhas criadas pela Escola Olodum[7] com o intuito de fortalecer o debate em torno da implementação da Lei 10.639/03 e favorecer a difusão de materiais didáticos para a educação étnico racial dentro das escolas.  As cartilhas em formato de quadrinhos contam as lutas dos negros por mudanças no contexto social da época, resgatando a nossa história. A turma recebeu as cartilhas que eu distribuí em sala, para realizarem a leitura e, a partir disso, criarem desenhos recontando essa história. A atividade consistia no primeiro contato da turma com o contexto histórico da Revolta dos Búzios. Após esse momento, seguimos rumo ao desenvolvimento das atividades dividindo a turma em dois grupos. O primeiro grupo ficou com a contextualização, realizando pesquisas sobre o tema abordado e utilizando vários meios: cartilha, jornais, internet e livros. Cada nova informação encontrada era compartilhada com o segundo grupo, o grupo da encenação. Esses alunos começaram a construir seus textos com base no que o primeiro grupo oferecia. Eram grupos com atividades distintas, mas interagiam na sala de aula para que o grupo de teatro pudesse criar sua montagem final, os textos, cenários e figurinos, pensando em como falar e como levar essas questões para cena.

Pelo fato de termos pouco tempo para os ensaios e apresentação, pois, com o fim do ano letivo e a preocupação com as provas da quarta unidade, resolvi colaborar com o grupo de teatro na criação dessas cenas. A partir do que eles haviam criado na sala de aula, construímos um texto com base no desenvolvimento da equipe, de maneira que se aproximasse do cotidiano desses alunos.  Observando os comentários a respeito do processo de criação, notei que a turma se inspirava apenas nos programas de TV (noticiários sensacionalistas, programas jornalísticos preconceituosos, que exibem as fragilidades das comunidades periféricas e as expõem em rede nacional, para atrair a audiência). Percebi que eles reverberavam não apenas esses programas sensacionalistas exibidos diariamente na TV, como também, a produção cultural de massa veiculada pelas diversas mídias, cantando músicas de conteúdo erótico, fazendo uso de aparelhos de telefone celular, para mostrar uns aos outros, vídeos com conteúdo pornográfico, violência etc.. Nesse contexto, elaboramos a primeira cena que se passava em um noticiário de televisão com duas repórteres anunciando o que estava para acontecer na Praça da Piedade.

 Em seguida, chamavam o repórter local que, ao vivo, transmitia a notícia sobre a revolta. Essa manifestação foi organizada por quatro homens negros que queriam melhorias para a população. Os mesmos davam entrevistas apontando as carências dessa comunidade e suas reivindicações. O segundo cenário se passava dentro de uma sala de aula com uma professora dando explicações sobre a Revolta dos Búzios e os alunos fazendo perguntas sobre o assunto em questão. Logo depois, a cena retorna ao cenário inicial para a finalização da mostra. Nessa cena, é anunciado o resultado do julgamento dos quatros homens, Manoel Faustino dos Santos Lira, João de Deus do Nascimento, Luiz Gonzaga das Virgens e Lucas Dantas. Todos foram condenados à morte por enforcamento, tendo sido executados na Praça da Piedade.  Todos saem em silêncio. Abaixo fotos da mostra realizada em sala de aula.

 

[FIGURA 3]

 

Fonte: Arquivo do autor, Novembro de 2013.

 

 

 

CONSIDERAÇÕES FINAIS.

 

Para finalizar gostaria de salientar que essa experiência me fez ver a importância dessa temática para a sociedade, em especial para a comunidade afrodescendente, que, conhecendo a sua história e toda a contribuição política, social e cultural, reafirma valores como autoestima e identidade, valorizando a própria cultura. Trabalhando com fatos históricos, abordando a cultura afro-brasileira e os reflexos desses eventos na sociedade, pude perceber o quão gratificante é ver a dedicação e identificação dos nossos alunos ao confrontarem-se com um período tão significativo da História do Brasil, principalmente do negro brasileiro. Os bairros com nomes de mártires negros, agora, não tão desconhecidos, traz um valor de pertencimento a esse estudante, e talvez, até a sensação de menor exclusão da história e dos livros didáticos, reafirmando a enorme participação no desenvolvimento do seu país. Conhecer a nossa história, nossa cultura, saber como surgiu determinado bairro e as diferentes expressões faladas nessas comunidades, perceber que isso está incluído na nossa maneira de falar, de vestir, de comer, de pentear os cabelos, pode ajudar a diminuir os conflitos existentes entre grupos sociais tão diversos. Entender porque e como a falta de conhecimento pode gerar diferenças entre pessoas de grupos étnicos semelhantes, seja por questões religiosas ou econômicas, pode ser o caminho para uma educação igualitária. Por tudo isso, espero que nas aulas de teatro a Lei não seja abordada apenas em datas comemorativas, visualizando somente o 20 de novembro. Antes era o 22 de agosto, dia do folclore, em que a escola lembrava, de forma pejorativa, o Saci Pererê, a baiana, lendas urbanas e não africanas. O calendário escolar hoje prioriza o dia da consciência negra, talvez, por ser obrigatório. Esta é uma data marcada pela reflexão, onde se discutem as políticas públicas em torno do fortalecimento da cultura negra no Brasil.

 


REFERÊNCIAS

 

AMARAL, Ana Maria. Teatro de formas animadas: Máscaras, bonecos, objetos/Ana Maria Amaral. 3ª ed. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, 1996.
ARCOVERDE, Silmara Lídia Moraes – PUCPR. A importância do teatro na formação da criança. Disponível em: <http://www.pucpr.br/eventos/educere/educere2008/anais/pdf/629_639.pdf> acessado em: 12 de Agosto de 2014 as 22:12.
BARBOSA, Mae Ana. Viver Mente e Cérebro: respectivas para um novo milênio. N° 6, 2006.
DOURADO, Paulo e MILET Maria Eugenia. Manual de criatividades. Salvador: EGBA, 1998.
FERREIRA, Luzia Gomes. As máscaras africanas e suas múltiplas faces. S.d. Disponível em: <http://www.uesb.br/anpuhba/artigos/anpuh_II/luzia_gomes_ferreira.pdf> . Acessado em: 10 de Agosto de 2014 as 20:00.
JESUS, Regina de Fátima de. Dez anos da lei Nº 10.639/03: memórias e perspectivas... [et al] Regina de Fátima de Jesus, Mairce da Silva Araújo e Henrique Cunha Junior [organizadores]. Fortaleza: Edições UFC, 2013.
MACHADO, Vanda. Ilê Axé: Vivências e invenções pedagógicas - as crianças do Opô Afonjá. Salvador: EDUFBA, 2002.
MÜLLER, Ricardo G. Teatro, política e educação: a experiência histórica do teatro experimental do negro (TEN) (1945/1968). Ufsc. Disponível em: <http://sbhe.org.br/novo/congressos/cbhe2/pdfs/Tema2/0219.pdf> acessado 16 de Agosto de 2014 as 23:35
ROCHA, Gilmar. Cultura popular: do folclore ao patrimônio. Uel, Londrina - PR, janeiro 2009. Disponível em: <file:///C:/Users/carol/Downloads/3358-11150-1-PB.pdf> Acesso em: 10 de Janeiro de 2014, as 01:20.
SANTOS, Ana Caroline de Jesus. O BEMBÉ DO MERCADO: Uma experiência de teatro sobre o candomblé de Rua de Santo Amaro – Bahia. Trabalho de conclusão de Curso – Monografia. Universidade Federal da Bahia – Escola de Teatro, Salvador – Bahia, 5 de Maio de 2014.
SPOLIN, Viola. Jogos teatrais: o fichário de Viola Spolin. São Paulo: perspectiva, 2006.
VALIM, Patrícia. Da Sedição dos Mulatos à Conjuração Baiana de 1798: a construção de uma memória histórica. Dissertação de Mestrado, DH, FFLCH, USP, 2007.




[1]              Discente graduanda em Licenciatura em Teatro pela Universidade Federal da Bahia e bolsista do Projeto Teatro/Educação do Programa Institucional de Bolsas de Iniciação à Docência – PIBID.
[2]              Professor e ex-coordenador do Programa de Pós-graduação em Artes Cênicas PPGAC na Escola de Teatro da UFBA. Coordena o projeto da área da Licenciatura em teatro do Programa Institucional de Bolsas de Iniciação à Docência - PIBID-CAPES-UFBA (30 bolsistas) e o projeto de estudos artísticos do Programa de Licenciaturas internacionais - PLI (7 bolsistas), Grupo Coimbra, também da CAPES.
[3]              Discente graduanda em Licenciatura em Música pela Universidade Federal da Bahia e ex-bolsista do Projeto Interdisciplinar Teatro e Educação do Programa Institucional de Bolsas de Iniciação à Docência – PIBID.
[4]              Camila Bonifácio Santos de Jesus, É atriz, diretora teatral, professora licenciada em Teatro pela Universidade Federal da Bahia (2007) e mestra em teatro pelo Programa de Pós Graduação em Artes Cênicas da UFBA (2013). Atuou como supervisora de teatro do Programa de Iniciação à Docência - PIBID/UFBA por quase dois anos. 
[5]              O patrimônio cultural é o conjunto de bens culturais simbólicos que abrange as tradições que um grupo de individuos e as expressões culturais preservam em respeito da ancestralidade, para as futuras gerações. Segundo a Constituição da República Federativa do Brasil de 1988, no Art. 216;

[6]              Natural da cidade sagrada de Ilé-Ifè, Félix Ayoh’OMIDIRE é professor doutor de línguas, culturas e literaturas franco-luso-afro-brasileiras na Obafemi Awolowo University, Ile-Ife, Nigéria. Félix Ayoh’OMIDIRE é autor de vários textos (livros e artigos) científicos na área de literatura e de estudos culturais e étnicos.
[7]              A Escola Olodum foi criada em 1984, pelo grupo cultural Olodum e desde 2001 é mantido pela Associação Carnavalesca Bloco Afro Olodum, organização que tem como objetivo resgatar, preservar e valorizar a cultura negra, buscando construir uma identidade cultural para os afros brasileiros. (Escola Olodum, 2011)

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